Presídio em SP separa mães e filhos antes do prazo legal e negligencia cuidados médicos, aponta Defensoria Pública

Relatório revela falhas graves no CPP Feminino do Butantan, incluindo falta de assistência médica para bebês e condições precárias para detentas.

Por Plox

18/11/2024 12h00 - Atualizado há 3 dias

Mães detidas no Centro de Progressão Penitenciária Feminina do Butantan (CPP), em São Paulo, têm sido separadas de seus filhos recém-nascidos aos seis meses de vida, descumprindo a norma que determina um mínimo de um ano e meio de convivência entre mãe e bebê. A denúncia foi feita pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, com base em inspeção realizada na unidade prisional em outubro.

 

Foto: Divulgação/Defensoria Pública do Estado de SP

Separação abrupta dos filhos

De acordo com o artigo 2º da Resolução nº 4 de 2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, é garantido que crianças permaneçam com suas mães encarceradas por pelo menos um ano e seis meses. O artigo 3º complementa que, após esse período, deve ser iniciado um processo gradual de separação, considerando aspectos psicossociais da família. Contudo, a Defensoria constatou que no CPP Feminino do Butantan, aos seis meses de idade, os bebês são abruptamente retirados das mães, contrariando as diretrizes.

Foto: Divulgação/SAP

Falta de atendimento médico para os bebês

Outro ponto crítico destacado no relatório é a ausência de acompanhamento médico regular para os bebês que nascem dentro do presídio. A unidade não conta com pediatras, e os recém-nascidos dependem exclusivamente de suporte externo para consultas e exames. Em um dos casos, exames indicados para um bebê nunca foram realizados, segundo os defensores.

Providências judiciais

Diante das irregularidades, a Defensoria Pública entrou com um pedido de providências à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) do Estado de São Paulo. O promotor Thiago Isaac Hemenegildo solicitou, no início de novembro, que a direção da unidade respondesse detalhadamente às denúncias. Em resposta, a SAP afirmou não ter sido oficialmente notificada, mas garantiu que as celas foram adequadas para receber mães e bebês e que responderá às demandas quando cientificada formalmente.

Outras violações constatadas

O relatório também lista diversas outras irregularidades no CPP Feminino do Butantan:

  • Condições precárias de higiene: Mulheres relataram falta de itens básicos, como absorventes e papel higiênico, apesar de haver estoque desses materiais na unidade. Algumas detentas relataram a necessidade de usar panos ou roupas como substitutos.
  • Acessos limitados: As detentas não têm acesso a banho quente, água potável em torneiras nas celas e sofrem com restrições ao banho de sol.
  • Assistência insuficiente: Presas estrangeiras não conseguem acessar os consulados de seus países, e não há suporte adequado para detentas com direito à saída temporária, como transporte ou recursos financeiros.
  • Violência e discriminação: As mulheres relataram ameaças, agressões e humilhações por parte de agentes penitenciários. A população LGBTQIAP+ enfrenta discriminação explícita.
  • Falta de suporte médico e psicossocial: A unidade conta com apenas uma médica com carga horária reduzida, o que prejudica o atendimento de casos graves. Além disso, faltam assistência jurídica e apoio psicossocial às detentas.

Denúncias de humilhação durante visitas

Famílias das detentas também relataram episódios de humilhação durante as visitas, além de atrasos na entrega de correspondências, agravando o sofrimento das mulheres encarceradas e seus entes queridos.

A Defensoria Pública mantém a cobrança por soluções imediatas e aguarda o posicionamento da SAP e da direção do CPP Feminino do Butantan para as devidas providências.

 

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