Alta nos preços de imóveis em BH desafia sonho da Casa Própria
Pesquisa revela aumento de 3,46% nos preços dos apartamentos; impacto é maior em famílias de baixa renda
Por Plox
18/12/2023 08h42 - Atualizado há 9 meses
Belo Horizonte enfrenta um aumento significativo nos preços dos imóveis, dificultando o acesso à moradia, especialmente para famílias de baixa renda. Segundo um levantamento do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi/MG), baseado em dados do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), o preço médio dos apartamentos comercializados na cidade entre janeiro e setembro de 2023 é de R$ 517.731, representando um crescimento de 3,46% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Este aumento é mais acentuado nos imóveis das faixas econômica e standard, com variações de 4,13% e 1,96%, respectivamente, e ainda mais expressivo entre os apartamentos de luxo, que tiveram um aumento de 5,6%. Ariano Cavalcanti de Paula, fundador do Secovi-MG e presidente da Netimóveis Brasil, atribui essa valorização à expectativa de queda na taxa básica de juros (Selic), que está em 11,75% e pode chegar a 9,25% até o final de 2024. "Havendo uma queda na taxa Selic, vai haver um impacto na valorização dos imóveis. Porque isso estimula a demanda, mais pessoas terão acesso a financiamentos com taxas mais baixas, e estimula o investimento," explica de Paula.
O impacto desse aumento é sentido principalmente pelas famílias de baixa renda. A média salarial em Belo Horizonte, conforme levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é de R$ 2.952,25. Com isso, muitos trabalhadores que recebem entre um e dois salários mínimos têm dificuldade em arcar com custos de moradia, que podem representar até 30% de sua renda. Uma pesquisa informal de O TEMPO com líderes comunitários revelou que o aluguel de imóveis pequenos pode chegar a R$ 400, enquanto imóveis maiores alcançam até R$ 800.
Frederico Poley, pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP), destaca que o déficit habitacional em Belo Horizonte, que chega a 55.952 domicílios, é agravado pelo ônus excessivo com aluguel. "Vamos publicar os dados referentes a 2022 no ano que vem, mas posso adiantar que está havendo um aumento no ônus excessivo com aluguel. Conforme os valores dos imóveis aumentam, cresce o ônus com o aluguel," afirma Poley.
Felipe Magalhães, professor do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, aponta para a necessidade de políticas habitacionais voltadas para as pessoas de baixa renda. "Quando a economia cresce e os salários aumentam, o problema não se resolve, porque o aluguel sobe também. O valor do aluguel acompanha o aumento de renda das pessoas e, por isso, é muito difícil resolver esse problema através do mercado," diz Magalhães.
A Prefeitura de Belo Horizonte, buscando reduzir o déficit habitacional, implementou diversas iniciativas, incluindo o Programa Locação Social, Compra Compartilhada e a produção de unidades habitacionais em parceria com movimentos populares. O Convênio Urbanístico de Interesse Social (CUIS), parte do Plano Diretor da cidade, também busca promover a habitação social, mas enfrenta desafios, como a falta de interessados no processo licitatório para um terreno disponibilizado.
Em nível nacional, o programa Minha Casa, Minha Vida, reformulado no primeiro ano do terceiro governo Lula, continua sendo a principal política pública de habitação, oferecendo subsídios para famílias com renda de até R$ 8.000, e abrangendo imóveis de até R$ 350 mil.