Política

Lula defende investigação em fraudes no INSS: "Se tiver filho meu envolvido nisso, será investigado"

Em meio a nova fase da Operação Sem Desconto, que apura esquema bilionário de descontos ilegais em benefícios e cita politicamente aliados e seu filho, Lula afirma que todos devem ser investigados e punidos em caso de envolvimento

18/12/2025 às 16:50 por Redação Plox

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (18) que qualquer pessoa envolvida no esquema de fraudes em aposentadorias do INSS será alvo de investigação e, se for o caso, de punição.

Durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, Lula foi questionado sobre as apurações da Polícia Federal e sobre a suposta ligação comercial entre Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, e seu filho Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha.



Muitas das coisas estão em segredo de Estado. Já li notícias e tenho dito para ministros e à CPI que é importante ter seriedade, que se possa investigar todas as pessoas envolvidas. Ninguém ficará livre. Se tiver filho meu envolvido nisso, ele será investigado. Luiz Inácio Lula da Silva

Nesta quinta-feira (18), a Polícia Federal realizou mais uma fase da Operação Sem Desconto, que apura um esquema de desvios ilegais em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS.

A nova etapa foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que retirou o sigilo da decisão também nesta quinta. Segundo a decisão, a PF identificou cinco pagamentos de R$ 300 mil, somando R$ 1,5 milhão, feitos por uma empresa do Careca do INSS — a Brasília Consultoria Empresarial S/A — para a empresa RL Consultoria e Intermediações Ltda., pertencente a Roberta Moreira Luchsinger, também investigada.

Em mensagem trocada entre o Careca e um de seus sócios, ambos investigados, ele afirma que um dos repasses de R$ 300 mil à empresa de Roberta seria destinado a “o filho do rapaz”. A decisão de Mendonça não esclarece a quem a expressão se refere.

A decisão também registra que a PF encontrou diálogos entre Roberta Luchsinger e o Careca do INSS, apontado como principal operador dos desvios. Em uma dessas conversas, Roberta afirma que “acharam um envelope com o nome do nosso amigo no dia da busca e apreensão”, referência a uma etapa anterior da Operação Sem Desconto. Segundo a PF, o Careca reage com a mensagem: “Putz”. Na sequência, Roberta envia: “Antônio, some com esses telefones. Joga fora”.

Como funcionava o esquema de fraudes no INSS

A Operação Sem Desconto investiga um esquema nacional de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS. Em abril, a PF revelou um esquema criminoso de descontos irregulares sobre valores recebidos por aposentados e pensionistas, entre 2019 e 2024. Conforme as investigações, os desvios podem chegar a R$ 6,3 bilhões.

O esquema consistia na cobrança de mensalidades indevidas, descontadas diretamente dos benefícios, como se os segurados fossem associados de entidades de aposentados, embora não tivessem autorizado qualquer vínculo ou desconto.

Segundo o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius de Carvalho, as associações envolvidas alegavam prestar serviços como assistência jurídica e oferecer descontos em academias e planos de saúde, mas não possuíam estrutura para isso.

Ao todo, 11 entidades foram alvo de medidas judiciais, e os contratos de aposentados e pensionistas com essas organizações foram suspensos, de acordo com a CGU.

As investigações também provocaram desdobramentos políticos. O ex-ministro da Previdência Carlos Lupi (PDT) pediu demissão após a crise gerada pela apuração e foi substituído pelo então secretário-executivo do órgão, Wolney Queiroz, atual titular da pasta.

Novas prisões e alcance da Operação Sem Desconto

Nesta nova fase, a PF prendeu Romeu Carvalho Antunes, filho de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, já preso desde setembro pelo mesmo esquema, e Eric Fidélis, filho do ex-diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis.

O ministro André Mendonça decretou ainda a prisão domiciliar de Adroaldo Portal, ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, exonerado após a etapa desta quinta-feira.

A PF chegou a pedir ao STF a prisão do senador Weverton Rocha (PDT-MA), mas a Procuradoria-Geral da República se manifestou contra. O senador, contudo, foi alvo de mandado de busca e apreensão.

Weverton é apontado pelas investigações como beneficiário dos desvios no INSS e “sustentáculo político” do grupo criminoso. Em nota, divulgada por sua assessoria, ele disse ter recebido “com surpresa” a busca em sua residência e afirmou que, “com serenidade”, se coloca à disposição para esclarecer dúvidas assim que tiver acesso integral à decisão.

Ao todo, PF e CGU cumprem 52 mandados de busca e apreensão, 16 mandados de prisão preventiva e outras medidas cautelares. A operação desta quinta foi autorizada pelo STF e realizada em São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais, Maranhão e no Distrito Federal.

CPMI do INSS e disputa em torno do nome de Lulinha

A CPMI do INSS, criada para investigar fraudes bilionárias em descontos indevidos aplicados a aposentados e pensionistas, se tornou palco de uma disputa política em torno de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Na terça-feira (16), deputados da oposição acusaram governistas de blindar o filho do presidente mesmo diante de supostas evidências de uma viagem a Portugal com o “Careca do INSS”.

Embora Lulinha não seja investigado pela PF e não haja provas documentais conclusivas sobre seu envolvimento, novos relatos e depoimentos encaminhados à comissão teriam passado a mencioná-lo como possível beneficiário de valores repassados por operadores do esquema. A Gazeta do Povo relata que tenta contato com Lulinha e sua defesa há pelo menos três semanas, sem sucesso, e que o espaço segue aberto a manifestações.

Nesta quinta-feira (18), a PF deflagrou mais uma fase da Operação Sem Desconto, com a prisão de Romeu Carvalho Antunes, filho do Careca do INSS, e busca e apreensão contra o senador Weverton Rocha, vice-líder do governo no Senado e membro da CPMI, que já havia se encontrado com o Careca.

Em 4 de dezembro, um requerimento apresentado pelo partido Novo para convocar Lulinha à CPMI foi rejeitado por 19 votos a 12. O pedido se baseava em relatos enviados ao colegiado, entre eles um depoimento à PF de Edson Claro, ex-funcionário de Antunes, apontado pela PF como principal operador do esquema e preso desde setembro. O teor original desse relato permanece sob sigilo.

Apesar da pressão da oposição, a base governista classificou a iniciativa como “sem propósito” e as denúncias como “sem provas”, na avaliação do deputado Paulo Pimenta (PT-RS). A convocação, contudo, deve continuar em debate em 2026 na comissão, que vem utilizando informações parciais da PF para embasar novos requerimentos.

Os documentos permanecem sob sigilo, mas fontes ligadas às operações afirmam que o nome de Lulinha teria aparecido como suposto beneficiário do Careca do INSS no recebimento de recursos mensais, de acordo com alegações de Edson Claro, embora Lulinha não esteja entre os alvos formais.

Ao portal Poder360, o ex-advogado e amigo de Lulinha, Marco Aurélio Carvalho, classificou as acusações como “pirotécnicas e improváveis” e como mais uma tentativa de desgastar sua imagem.

Relatos de “mesada” e viagens a Portugal

Segundo relatos de Edson Claro à PF, que somariam cerca de mil páginas de documentos, textos e áudios trocados por aplicativos de mensagens, Lulinha teria recebido pagamentos mensais próximos de R$ 300 mil, descritos como uma espécie de “mesada”. A denúncia foi divulgada originalmente pelo Poder360 com base nas declarações de Claro à PF, posteriormente levadas à CPMI.

O valor total movimentado poderia chegar a R$ 25 milhões. Ainda conforme o depoimento, o filho do presidente e o Careca do INSS teriam feito viagens juntos a Portugal — uma delas, um voo de Guarulhos a Lisboa em novembro de 2024.

Segundo as apurações, mensagens de WhatsApp reunidas na investigação mencionariam Lulinha de forma recorrente, às vezes como “nosso amigo”. Em algumas conversas, interlocutores demonstrariam preocupação com a associação pública entre ele e negócios de uma empresa do setor de cannabis.

Até agora, porém, a PF não identificou participação de Lulinha no núcleo central das fraudes no INSS, e parte da corporação considera frágeis os indícios apresentados.

Informações compartilhadas com a CPMI e confirmadas pela reportagem indicam que há divergência interna na PF sobre como avançar na apuração envolvendo o nome de Lulinha. Uma ala defende aprofundar rapidamente as investigações sobre sua relação com o Careca do INSS; outra sustenta que há apenas menções indiretas e que seria precipitado adotar medidas mais duras sem provas mais consistentes.

Esse impasse é usado pela base do governo para contestar pedidos de convocação e quebras de sigilo, enquanto oposicionistas afirmam que se trata de tentativa de blindar o filho do presidente.

Conexões sob análise na CPMI

Diversos documentos em poder de membros da CPMI e da PF indicariam que investigados na fraude que desviou bilhões de aposentados e pensionistas teriam relação direta ou indireta com pessoas próximas a Lulinha. Entre elas, a empresária Roberta Moreira Luchsinger, que mantinha tratativas com o Careca do INSS sobre negócios de canabidiol.

Roberta apareceria em viagens de avião com Lulinha em 2024 e 2025, algumas com o mesmo código localizador, o que indicaria reservas feitas em conjunto. Ela nega qualquer relação com fraudes no INSS e afirma que seus contatos com o Careca se limitaram a negociações sobre regulação do setor de canabidiol, que não avançaram.

Segundo fontes ligadas à investigação, a PF apura se recursos desviados teriam sido enviados ao exterior para estruturar negócios internacionais envolvendo a venda de canabidiol.

Apesar das coincidências de datas e das conexões pessoais e empresariais citadas, não há prova direta que vincule Lulinha à chamada “Farra do INSS” ou que comprove sua participação em fraudes ao lado do Careca do INSS.

Quem é Lulinha e seu histórico 

Fábio Luís é formado em Biologia, já trabalhou como estagiário de zoológico e construiu carreira no setor de tecnologia. Nos anos 2000, tornou-se sócio de uma empresa de jogos eletrônicos e tecnologia, e desde então seu nome aparece com frequência em polêmicas envolvendo negócios privados e proximidade com grupos empresariais.

Entre os principais episódios está uma denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal em 2019, que o acusou de receber vantagens de uma empresa de telefonia entre 2004 e 2016. Ele sempre negou qualquer irregularidade.

Em 2020, seu nome voltou a aparecer em apurações da Lava Jato, em um caso sobre repasses superiores a R$ 100 milhões para empresas supostamente ligadas a ele, posteriormente arquivado.

Em julho deste ano, período que coincidiu com o avanço das investigações sobre fraudes no INSS, Lulinha teria se mudado para a Espanha. A Gazeta do Povo afirma ter solicitado seus contatos à Presidência da República e à assessoria de Lula, sem obter resposta. A Presidência também não informou se procede a informação de que ele só pretende retornar ao Brasil após o fim do mandato do pai, em 2026.

Reação política e cobrança por explicações

Para o deputado federal Paulo Pimenta, a oposição faz uso de “acusação sem provas” para criar fatos políticos. Já o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) classificou como vergonhosa a votação que barrou a convocação de Lulinha na CPMI do INSS e disse tratar-se de mais uma tentativa de obstrução do governo, que chamou de “governo da corrupção”.

O senador Sergio Moro (União-PR) defende que sejam apuradas as supostas ligações entre Lulinha e o Careca do INSS e apoia a convocação de Edson Claro e de Lulinha para depor à CPMI, argumentando que o governo tenta blindá-lo, enquanto a oposição seguirá tentando chamar ambos.

Pontos ainda sem resposta nas investigações

A CPMI e a PF ainda tentam esclarecer questões centrais. A maior parte dos documentos, especialmente os enviados pela Receita Federal e pelo Coaf, permanece sob sigilo. A PF não comenta investigações em andamento.

Para parlamentares da oposição, é essencial responder qual é a real natureza da relação entre Lulinha e o Careca do INSS; se houve repasses financeiros e em quais montantes; se empresas ligadas a ele foram usadas no esquema; se as viagens mencionadas tinham caráter profissional, pessoal ou empresarial; e se há documentos que sustentem a existência de sociedade formal com Antunes.

Segundo o criminalista Márcio Nunes, por enquanto o que existe são indícios fragmentados, depoimentos controversos e relações pessoais e empresariais pouco esclarecidas, um conjunto que mantém o tema no debate público, mas sem conclusões definitivas.

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