Ex-comandante confirma que Bolsonaro propôs estado de sítio após derrota eleitoral
General Freire Gomes relata ao STF que Bolsonaro apresentou minuta de intervenção e recebeu apoio apenas do então comandante da Marinha
Por Plox
19/05/2025 19h38 - Atualizado há 2 dias
O general Marco Antônio Freire Gomes, que chefiou o Exército brasileiro durante o governo de Jair Bolsonaro, prestou um novo depoimento nesta segunda-feira (19) ao Supremo Tribunal Federal (STF), no qual reafirmou ter recebido do ex-presidente um documento que propunha a decretação de estado de sítio no Brasil após as eleições de 2022.

A audiência ocorre dentro do processo que investiga a tentativa de golpe de Estado, do qual Bolsonaro é réu. Freire Gomes contou que se posicionou firmemente contra qualquer iniciativa que rompesse com a ordem democrática e comunicou pessoalmente ao então presidente, durante uma reunião no Palácio da Alvorada, em dezembro daquele ano, que o Exército não apoiaria tal ação.
Em sua declaração, o general relatou que entre os comandantes das Forças Armadas, apenas o então líder da Marinha, Almir Garnier, demonstrou disposição de se alinhar ao que propunha o presidente. “A intenção do que ele quis dizer com isso não me cabe”, afirmou o general, indicando que não cabe a ele julgar o significado exato do posicionamento do colega.
Freire Gomes ainda revelou que, em uma reunião realizada no dia 14 de dezembro no Ministério da Defesa, o então ministro Paulo Sérgio Nogueira tentou reapresentar a mesma minuta com teor golpista. O encontro foi abruptamente interrompido após o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Júnior, questionar se o documento previa impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Nogueira, segundo o depoente, permaneceu em silêncio diante da pergunta.
Além dos episódios envolvendo reuniões e propostas, Freire Gomes mencionou que Bolsonaro sofria intensas pressões para agir contra o resultado eleitoral e que, depois de sua negativa em aderir ao plano, ele e seus familiares passaram a ser alvo de ataques virtuais.
'Bolsonaro estava sob forte pressão e tentou convencer os comandantes militares a apoiar uma medida extrema', afirmou Freire Gomes ao STF
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No total, 81 testemunhas devem ser ouvidas pelo STF até o dia 2 de junho, entre elas, indicados tanto pela Procuradoria-Geral da República (PGR) quanto pelas defesas dos oito acusados apontados como membros do chamado “Núcleo Crucial” da suposta organização criminosa. Jair Bolsonaro é réu ao lado de outras 33 pessoas, por crimes como tentativa de golpe, abolição do Estado Democrático de Direito e formação de organização criminosa. Segundo a denúncia, civis e militares atuaram de forma articulada para tentar reverter o resultado das urnas em 2022.