PF revela que agente da Abin errou alvo ao espionar homônimo de Moraes
Relatório aponta espionagem equivocada por agente da 'Abin paralela' e detalha envolvimento de Carlos Bolsonaro e do ex-presidente em ações ilegais
Por Plox
19/06/2025 08h57 - Atualizado há 1 dia
Relatório final da Polícia Federal aponta que um agente vinculado à chamada “Abin paralela” monitorou por engano uma pessoa que tinha o mesmo nome do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Segundo o documento, o agente Thiago Gomes Quinalia pesquisou o homônimo do ministro no sistema First Mile em maio de 2019, conforme consta no trecho: “O Agente de Inteligência THIAGO GOMES QUINALIA realizou diversas pesquisas no sistema First Mile, dentre elas o homônimo do Exmo. Ministro Relator”.
Isso ocorreu durante investigação que apurou uso instrumental da Agência Brasileira de Inteligência para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governo entre 2019 e 2021.
Thiago Quinalia, que em 2024 foi enviado como auxiliar de adido na França, não retornou ao Brasil no prazo previsto — abril de 2024 —, abandonou o cargo e está desaparecido, segundo a PF.
O relatório final foi enviado ao Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Moraes, que nesta quarta-feira (18/06) retirou o sigilo dos autos após suspeitas de vazamentos seletivos.
A PF concluiu que Jair Bolsonaro foi o “principal destinatário” das ações da Abin paralela, estruturada por seu filho Carlos Bolsonaro (PL), que teria idealizado e comandado a organização clandestina, conforme trecho: “Carlos Bolsonaro teria idealizado a criação de uma estrutura paralela de inteligência por não confiar nas instituições oficiais”. Ele era o “destinatário final dos produtos das ações clandestinas e principal beneficiário das ações delituosas”.
As investigações identificaram ainda que assessores ligados a Carlos Bolsonaro solicitaram apoio do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, em inquéritos “envolvendo PR e 3 filhos”. Na terça-feira (17/06), Carlos e Ramagem foram indiciados por uso ilegal de ferramentas da agência para investigar autoridades.
A estrutura incluía compra de sistema espião para rastreamento de alvos definidos em todo o país. Apesar de atuarem na Presidência, os servidores estavam alinhados com os interesses pessoais de Carlos, segundo o relatório.
“Ora, as evidências constantes nos autos indicam a integração dolosa e consciente de CARLOS BOLSONARO na ORCRIM, atuando na guerra informacional, na articulação de estruturas paralelas de inteligência e produção de campanhas de desinformação”, diz o documento.
Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas — entre elas três delegados da PF atualmente na direção da Abin: Luiz Fernando Corrêa (diretor-geral), Luiz Carlos Nóbrega (chefe de gabinete) e José Fernando Chuy (corregedor-geral), todos nomeados no governo Lula. A Abin não comentou o caso.
Na tarde de terça (17/06), Carlos Bolsonaro publicou em sua rede social que o indiciamento estaria ligado ao processo eleitoral de 2026: “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? … é só coincidência!”, afirmou no X.
O relatório da PF revela não apenas o erro de monitoramento, mas a engrenagem de espionagem política que envolvia o presidente Jair Bolsonaro, seu filho Carlos e agentes da Abin paralela.