Com média de 156 por dia, acolhimentos a moradores de rua crescem no Rio

Cidade registra aumento significativo nas abordagens, mas população em situação de rua ainda enfrenta fome, exclusão e falta de apoio contínuo

Por Plox

19/08/2025 16h18 - Atualizado há 16 dias

No Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, celebrado nesta terça-feira (19), o Rio de Janeiro volta os olhos para o aumento dos acolhimentos a pessoas que vivem nas ruas da cidade. Apesar dos avanços, os desafios permanecem intensos para essa população vulnerável.


Imagem Foto: Reprodução


De acordo com dados da Secretaria Municipal de Assistência Social, entre janeiro e julho de 2025, foram realizados mais de 62 mil atendimentos — um aumento de quase 15 mil em relação ao mesmo período de 2024. Os acolhimentos também cresceram, chegando a 33 mil nos sete primeiros meses deste ano, uma média de 156 por dia, quase 21 mil a mais que no ano anterior.



Mesmo com os números em alta, nem todos aceitam ser encaminhados aos abrigos. A subsecretária de Proteção Social, Jéssica Almeida, destaca que os equipamentos são adaptados para diferentes perfis, com estruturas específicas para idosos, mulheres, homens e famílias, respeitando suas individualidades.



Entretanto, especialistas reforçam que o enfrentamento da situação vai além da disponibilidade de abrigos. O professor da UERJ, Dário de Souza e Silva Filho, com mais de três décadas de pesquisa na área, ressalta que a precariedade do mercado de trabalho foi um dos fatores que levaram muitos às ruas. Segundo ele, grandes eventos atraíram trabalhadores de baixa qualificação ao Rio, mas os empregos não se sustentaram com o tempo, levando ao desalento.



A falta de acesso a itens básicos como alimentação e higiene também é apontada como agravante. “Quanto mais tempo uma pessoa fica sem cuidar de seu asseio, menor a chance de ela conseguir um emprego ou preservar sua saúde mental”, explica Dário. Atualmente, a Prefeitura oferece apoio por meio de dois Centros Pop e 14 Creas, onde é possível tomar banho, lanchar e participar de atividades.



Além das ações públicas, iniciativas solidárias também têm impacto. A pastora Mara Cristiane, da Assembleia de Deus Poder e Unção, na Taquara, distribui semanalmente até 1.500 quentinhas para quem vive nas ruas. “A fome é enorme. A gente leva comida porque a necessidade é urgente”, relata.



Um dos rostos por trás das estatísticas é Monique de Souza, de 48 anos, que vive com o marido e sua cadela Pantera sob a marquise da Cinelândia. Sem residência fixa há mais de uma década, ela conta que o sonho de ter uma casa e voltar ao mercado de trabalho é barrado por seu histórico como ex-presidiária. “Errar é humano. Repetir, não quero mais. Quero uma vida diferente”, desabafa.



A data simbólica foi marcada por um ato pacífico organizado pelo Fórum de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua na escadaria da Câmara Municipal, pedindo o fim da violência nas operações urbanas e mais dignidade para quem vive nas ruas.


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