Lula evita contato direto com Trump em meio à crise tarifária
Presidente brasileiro afirmou que tentativa de diálogo não ocorreu por falta de interesse dos EUA, apesar de pressão da BBC
Por Plox
19/09/2025 13h52 - Atualizado há 3 dias
Durante entrevista concedida à emissora britânica BBC no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou uma série de perguntas diretas sobre sua postura diante da recente decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

A jornalista Ione Wells questionou Lula repetidamente sobre o motivo de ele não ter tentado entrar em contato pessoalmente com o republicano para buscar uma solução negociada. Por seis vezes, a equipe da BBC reformulou a pergunta, mas a resposta do presidente brasileiro se manteve praticamente a mesma:
“Eles não querem conversar”
, disse ele, recusando a ideia de que uma ligação direta pudesse mudar o rumo da situação.
Lula argumentou que a medida adotada por Trump possui motivações políticas, especialmente ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, e não comerciais. Segundo ele, essa decisão ignora a soberania brasileira e desrespeita instituições como o Supremo Tribunal Federal. “Essa atitude vai prejudicar o próprio povo americano, porque a inflação deles vai aumentar”, completou o presidente.
Ao ser confrontado com a sugestão de que Trump estaria aberto ao diálogo, o petista rebateu afirmando que a decisão da tarifa foi comunicada de forma unilateral, sem qualquer tentativa prévia de contato com o governo brasileiro. “Fiquei sabendo pelos jornais. Nem o Itamaraty foi oficialmente notificado”, relatou Lula.
Na tentativa de justificar a ausência de uma ligação, Lula mencionou que sua equipe econômica e diplomática, incluindo os ministros Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Mauro Vieira, tentou negociar com representantes norte-americanos, mas não houve retorno. Segundo ele, os EUA vêm adotando uma postura de unilateralismo e não demonstram disposição para conversas multilaterais. Ainda assim, reiterou:
“Na hora que ele quiser, eu estou disposto a conversar”
.
Wells insistiu em saber se Lula, de fato, tentou ligar e Trump recusou atender, ou se ele sequer realizou a tentativa. A resposta foi categórica: “Eu não tentei fazer chamada porque ele nunca quis conversar”. A repórter então concluiu que Lula nunca tentou, e ele confirmou: “Nunca. Nunca quis conversar”.
Ao longo da conversa, o presidente ressaltou que a relação entre Brasil e Estados Unidos tem mais de dois séculos de história, e lamentou o que considera um comportamento político motivado por narrativas infundadas de déficit comercial. Informou ainda que, no dia 16 de maio, o Brasil enviou uma carta oficial aos EUA cobrando respostas sobre negociações anteriores, sem retorno até o momento.
Questionado sobre seu relacionamento pessoal com Trump, Lula foi direto: “Olha, não tem relação”. Em contrapartida, fez questão de destacar seu bom histórico diplomático com presidentes anteriores como George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden, além de manter laços com líderes da Europa, América Latina e outros continentes.
Apesar dessa afirmação, a reportagem da BBC apontou que, em sua atual gestão, o Brasil enfrenta tensões com líderes internacionais como Volodymyr Zelensky (Ucrânia), Benjamin Netanyahu (Israel) e Javier Milei (Argentina), além da ausência de comunicação direta com o próprio Trump.
Diante do impasse, o governo brasileiro acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) e abriu processo contra os EUA, com base na seção 301 do Departamento de Comércio americano. A medida é uma tentativa de reação formal, diante da falta de canais diretos de negociação. “Quem sabe, depois disso tudo, haja uma possibilidade de sentar à mesa e negociar?”, finalizou Lula.
O clima entre os dois países segue tenso, e a ausência de uma tentativa de contato direto entre os líderes coloca em evidência o distanciamento diplomático em um momento delicado para o comércio bilateral.