Saúde

Estudo revela como tumores driblam células de defesa e desafiam imunoterapia

Descoberta publicada na Nature Immunology mostra que tumores forçam produção da proteína CD47 nas células T, enfraquecendo o sistema imunológico; bloqueio desse mecanismo pode ampliar eficácia de tratamentos.

19/11/2025 às 08:14 por Redação Plox

Um estudo divulgado na revista Nature Immunology nesta segunda-feira (17) revela um mecanismo desconhecido que os tumores utilizam para desligar as células T — peça central do sistema imune no combate ao câncer.

Segundo a pesquisa conduzida pela Weill Cornell Medicine, com colaboração do Memorial Sloan Kettering e Parker Institute, existe uma forma de interromper esse sinal, permitindo que as células de defesa recuperem a força e ataquem tumores, inclusive aqueles que já não respondem à imunoterapia.

O oncologista Stephen Stefani, do grupo Oncoclínicas e da Americas Health Foundation, destaca a relevância do avanço para a oncologia moderna.

A imunoterapia é o maior avanço da última década. Mas, mesmo com resultados promissores, muitos pacientes param de responder. Este estudo ajuda a explicar por quê Stephen Stefani

Entenda o papel das células T

As células T são glóbulos brancos especializados em reconhecer e atacar células consideradas ameaças, como vírus, bactérias e tumores. Na imunoterapia, o objetivo é justamente potencializar ou liberar essas células para destruir o câncer. Contudo, tumores avançados desenvolvem estratégias para esgotar essas células, um fenômeno conhecido como exaustão de células T.

Como ocorre a exaustão imunológica

Após prolongada batalha contra o tumor, as células T seguem identificando a ameaça, mas perdem capacidade de ataque — uma espécie de "modo de economia de bateria" do sistema imune. Esse esgotamento é uma das razões para a falta de resposta à imunoterapia em parte dos pacientes, sendo possível também que o tratamento deixe de funcionar com o tempo.

De acordo com Stefani, os tumores exploram ativamente essas fraquezas:

O tumor é sofisticado. Ele cansa a célula T para que, mesmo reconhecendo o alvo, ela não consiga combater. É como se dissesse: ‘ok, você tirou minha capa de invisibilidade, mas vai cansar antes de me matar’ Stephen Stefani

CD47: o mecanismo oculto revelado

O foco inicial dos pesquisadores era a CD47, uma proteína apelidada de "sinal do não me coma". Muitas células cancerígenas exibem a molécula em sua superfície para enganar os macrófagos (outras células de defesa), sinalizando que não devem ser atacadas.

A surpresa veio ao descobrir que as próprias células T também passam a produzir CD47 quando entram em exaustão. Essa produção excessiva é um dos fatores que desliga a resposta imune. Em experimentos com animais:

  • Ratos sem CD47 nas células T apresentaram tumores menores.
  • Essas células de defesa eram muito mais ativas.
  • A presença da CD47 nas células T foi determinante para a queda da resposta imunológica, mais até do que no tumor.

TSP-1: a molécula responsável por ativar a CD47

O próximo passo foi entender o que ativa esse mecanismo. Os cientistas identificaram a TSP-1 (thrombospondin-1), proteína liberada em grande quantidade por tumores metastáticos. Quando a TSP-1 se conecta à CD47 nas células T, envia um comando para "desligar" a resposta.

Em ratos sem TSP-1, as células T resistiam mais à exaustão.

Eliminar qualquer uma das peças –CD47 ou TSP-1– dava o mesmo efeito. Foi o nosso momento ‘eureka’ Taha Merghoub

Bloqueando a exaustão: o papel do peptídeo TAX2

Para comprovar a teoria, os cientistas usaram o TAX2, um peptídeo criado em laboratório para bloquear a interação entre TSP-1 e CD47. Agindo como uma chave molecular, o composto impede que a TSP-1 envie o comando de desligamento às células T.

Nos testes com animais, os resultados foram expressivos:

  • As células T retomaram a produção normal de citocinas, suas "armas químicas".
  • Conseguiram penetrar mais nos tumores.
  • Houve redução marcante no crescimento de melanomas e câncer colorretal.
  • A combinação do TAX2 com imunoterapia anti-PD1 ampliou ainda mais o efeito antitumoral.

Essa estratégia permite um duplo ataque ao tumor: desbloqueia as células T tanto do freio PD1 quanto do "freio" formado entre CD47 e TSP-1.

O que os resultados significam para o futuro

Caso seja validada em humanos, a abordagem abre espaço para:

  • Restaurar a resposta de pacientes resistentes à imunoterapia.
  • Prolongar a eficácia do tratamento para quem perde resposta ao longo do tempo.
  • Desenvolver combinações mais eficazes de terapias.
  • Reduzir a exaustão das células T em tumores difíceis, como os metastáticos.
Nosso sonho é tornar terapias baseadas em imunidade acessíveis a todos os pacientes. Para isso, precisamos reviver as células T exaustas Taha Merghoub

Os próximos passos envolvem o desenvolvimento de medicamentos que possam bloquear o eixo entre CD47 e TSP-1 com segurança, visando futuros estudos clínicos.

É fascinante ver como o tumor se defende. Mas cada descoberta dessas abre uma porta. Temos pressa —o mundo não aguenta mais o impacto emocional, social e econômico do câncer. Precisamos cercar o tumor por todos os lados Stephen Stefani


Informações relatadas pelo portal G1.

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