Moraes repreende general e advogado em audiência sobre trama golpista
Ministro do STF interrompe advogado de defesa e questiona general sobre contradições em depoimento sobre reunião com Bolsonaro
Por Plox
20/05/2025 11h41 - Atualizado há 3 dias
Durante uma tensa audiência realizada nesta segunda-feira (19), no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes protagonizou momentos de confronto direto com o general do Exército Marco Antônio Freire Gomes e com o advogado Eumar Novak, defensor do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. A sessão teve como foco o depoimento de Freire Gomes, uma das testemunhas convocadas no processo que apura a suposta tentativa de golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Moraes pressionou o general após ele evitar repetir parte de um depoimento anterior prestado à Polícia Federal. Segundo o conteúdo anterior, o almirante Almir Garnier teria demonstrado apoio explícito ao então presidente Jair Bolsonaro durante uma reunião em que foi apresentado um estudo jurídico que, supostamente, serviria de base para medidas antidemocráticas.
Diante da omissão, Moraes questionou diretamente:
\"O senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui\"
, disparou o ministro. O general respondeu afirmando que, em meio século de carreira no Exército, jamais mentiu, e explicou que Garnier apenas disse estar com o presidente, sem detalhar suas intenções.
Durante o mesmo encontro citado, Bolsonaro teria apresentado propostas relacionadas à decretação de Estado de Sítio e da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), dispositivos legais previstos na Constituição. Freire Gomes negou veementemente que tenha dado voz de prisão a Bolsonaro durante a ocasião, mas relatou ter alertado o então presidente de que ultrapassar os limites legais o colocaria sob implicações jurídicas.
– Não aconteceu isso [voz de prisão], de forma alguma. Eu alertei ao presidente que se ele saísse dos aspectos jurídicos, além de não concordarmos com isso, ele seria implicado juridicamente – afirmou o general.
A audiência também teve um momento de atrito entre Moraes e o advogado Eumar Novak. Após a insistência do defensor em repetir perguntas sobre a presença de Anderson Torres nas reuniões mencionadas, o ministro interrompeu com veemência:
\"Não estamos aqui para fazer circo. Não vou permitir que Vossa Excelência faça circo no meu tribunal. Não adianta ficar repetindo seis vezes a mesma pergunta\"
, declarou Moraes.
O depoimento de Freire Gomes foi encerrado por volta das 18h30. A próxima audiência está marcada para quarta-feira (21), quando será ouvido o ex-comandante da Aeronáutica Batista Júnior. Até o dia 2 de junho, 82 testemunhas indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas dos acusados deverão prestar depoimento. Após essa etapa, os próprios réus, incluindo Bolsonaro, serão interrogados, ainda sem data definida.
O processo envolve o chamado “núcleo 1” da suposta trama, composto por oito pessoas que tiveram a denúncia aceita por unanimidade na Primeira Turma do STF no dia 26 de março. Estão entre os réus: Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira e Mauro Cid. Eles respondem por crimes como tentativa de golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e organização criminosa armada.
A expectativa é que o julgamento que definirá a condenação ou absolvição dos réus ocorra ainda neste ano.