Recursos Médicos em MG: Escassez de Especialistas Afeta Atendimento

A situação tem afetado especialmente os serviços de saúde de urgência

Por Plox

20/06/2023 08h15 - Atualizado há cerca de 1 ano

Minas Gerais, um dos principais estados do Brasil, está atualmente experimentando um grande desafio no seu sistema de saúde pública. A falta de médicos especialistas em diversas áreas vem comprometendo os serviços de atendimento à população, que soma cerca de 21,4 milhões de pessoas.

Segundo a Demografia Médica do Brasil 2023, um estudo da Associação Médica Brasileira em parceria com a Universidade de São Paulo, o estado conta com 62,2 mil médicos. Isso equivale a aproximadamente três profissionais por mil habitantes, um número insuficiente para atender à demanda de especialidades.

Por exemplo, apenas 424 oncologistas clínicos são responsáveis por tratar todos os casos de câncer em Minas Gerais. Este número, distribuído entre os 853 municípios do estado, revela que muitas cidades carecem desse tipo de atendimento especializado.

O cenário piora quando nos deparamos com áreas que possuem ainda menos especialistas. Segundo a mesma pesquisa, Minas Gerais conta com 113 especialistas em radioterapia, 67 em medicina física e reabilitação, 192 em alergia e imunologia, e 97 em cirurgia de cabeça e pescoço.

 

Gil Leonardi / Imprensa MG

A situação tem afetado especialmente os serviços de saúde de urgência. Em muitos casos, a falta de especialistas tem prolongado a espera por atendimento e, consequentemente, agravado a condição de saúde dos pacientes.

Belo Horizonte: A Pressão de Ser Referência

Belo Horizonte, capital do estado, serve como referência em saúde para outras 101 cidades em várias especialidades, e para 667 municípios em serviços de média complexidade, como pediatria e cardiologia. No entanto, a cidade enfrenta seu próprio déficit de profissionais, que chega a 10%.

Esse déficit impacta diretamente a população. Cerca de 35% das internações de urgência em Belo Horizonte são de pessoas não residentes na capital, reforçando a sobrecarga nos serviços de saúde da cidade.

A Necessidade de Estratégias de Recrutamento

A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), por exemplo, lida com um déficit de 10% a 15% em seu quadro de médicos. Em especialidades como neurocirurgia e cirurgia pediátrica, a escassez chega a ser ainda mais grave, alcançando até 20%.

Diante dessa realidade, a fundação busca alternativas para garantir o atendimento. Nos últimos meses, a Fhemig lançou editais de credenciamento para contratação temporária de profissionais. Além disso, a rede pretende realizar um concurso público, oferecendo 1.800 vagas em diversas áreas, incluindo a médica.

O Futuro da Saúde Pública em Minas Gerais

A remuneração defasada, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), surge como um dos principais obstáculos para a contratação e retenção de especialistas. Segundo o especialista em gestão de saúde Odarlone Orente, a escassez de médicos especialistas é um problema generalizado no Brasil, e Minas Gerais não é exceção. Ainda segundo a pesquisa Demografia Médica do Brasil 2023, o estado possui um total de 62.200 médicos para atender sua população de 21.4 milhões de pessoas. Fazendo uma simples divisão, isso representa quase três profissionais para cada mil habitantes. No entanto, ao aprofundar a análise, a situação torna-se mais crítica quando se trata de especialistas. Tomando a oncologia como exemplo, existem apenas 424 oncologistas clínicos responsáveis pelo tratamento de todos os pacientes com câncer no estado. Se esses médicos fossem divididos igualmente pelas cidades, pelo menos metade dos 853 municípios mineiros não teriam atendimento oncológico.

Especialistas em falta, atendimento em xeque

Um estudo realizado pela Associação Médica Brasileira (AMB) em parceria com pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revelou que a carência de médicos especialistas está comprometendo os atendimentos, inclusive emergenciais, e até resultando em óbitos em todo o estado. O levantamento também apontou que algumas especialidades em Minas Gerais têm um número particularmente baixo de profissionais. Por exemplo, existem apenas 113 especialistas em radioterapia, 67 em medicina física e reabilitação, 192 em alergia e imunologia, e 97 em cirurgia de cabeça e pescoço. A pesquisa ressalta ainda que nem todos esses especialistas trabalham no Sistema Único de Saúde (SUS).

"Estamos vivendo uma situação de caos na saúde pública em todo o país, que vai além da capacidade resolutiva dos municípios", relata Denise Martins Ferreira, presidente do Conselho de Saúde do Hospital Infantil João Paulo II. Ainda de acordo com Ferreira, mesmo que haja médicos sendo formados, a quantidade necessária para atendimento no SUS ainda é insuficiente. A escassez de especialistas tem provocado atrasos significativos no encaminhamento de pacientes para exames e consultas especializadas, o que resulta em um agravamento da doença.

Casos emblemáticos ilustram a crise na saúde pública

A magnitude da crise na saúde pública de Minas Gerais é ilustrada por alguns casos que vieram à tona recentemente. Em dezembro do ano passado, a independência de Hortência Maria de Freitas, de 72 anos, foi ameaçada quando ela precisou de uma cirurgia vascular para evitar a amputação das duas pernas. Em março deste ano, a vida de um bebê de um mês estava em risco enquanto ele esperava por atendimento especializado. Nos dois casos, as vagas surgiram a tempo de evitar o pior. No entanto, esses exemplos destacam a necessidade de profissionais especializados para tratar certas doenças.

"Contrário ao que as pessoas pensam, não é apenas uma questão de transferir o paciente. Precisamos ter vagas em locais com os equipamentos necessários e médicos disponíveis", explica Thalisson Henrique Martins Silva, professor adjunto de fisiologia na Universidade Federal de Minas Gerais.

Propostas para minimizar a escassez

Diante do cenário desafiador, há várias propostas em discussão para minimizar a escassez de médicos especialistas. O governo de Minas Gerais, por exemplo, planeja investir na formação de mais especialistas, aumentar a residência médica nas áreas de maior necessidade, além de incentivar a instalação de novos especialistas nas regiões mais afetadas pela falta de profissionais.

Por outro lado, as entidades médicas defendem a criação de um plano de carreira que torne atraente a prática da medicina no interior do estado. Além disso, enfatizam a necessidade de melhorar as condições de trabalho e remuneração dos médicos do SUS para atrair mais profissionais para o sistema público.

Especialistas também sugerem parcerias entre o governo estadual e universidades para oferecer programas de especialização e residência médica. Acredita-se que a colaboração poderia facilitar o acesso dos médicos recém-formados às especialidades de maior demanda, ao mesmo tempo em que garante a qualidade da formação.

A escassez de médicos especialistas em Minas Gerais é um problema complexo, que requer soluções igualmente complexas e multifacetadas. As autoridades e os profissionais de saúde têm um grande desafio pela frente para garantir que todos os mineiros tenham acesso aos cuidados de saúde de que necessitam.

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