Grupo masculino cristão Legendários ganha força entre políticos de MG
Movimento que combina fé e desafios ao ar livre atrai vereadores, prefeito e o vice-governador em Minas
Por Plox
20/06/2025 09h29 - Atualizado há 3 dias
Um grupo exclusivamente masculino e cristão, conhecido como Legendários, tem atraído políticos de Minas Gerais por meio de práticas físicas intensas ao ar livre que prometem revelar o \"melhor de si\" através da fé.

Segundo relatos, o movimento surgiu na Guatemala em 2015 e desembarcou no Brasil dois anos depois. Com cerca de 52 mil membros espalhados por 13 países — sendo mais de 10 mil no Brasil —, o foco é superar limites e fortalecer a espiritualidade.
“Para Jesus voltar, o Evangelho tem que ser propagado”
, justificou o prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo, que tomou posse em 1º de janeiro de 2025 vestindo o uniforme laranja do grupo e entoando o lema “Homens inquebrantáveis!... A serviço de quem? Jesus!”.
A atuação dos Legendários teve destaque também em outubro de 2024, quando o movimento foi homenageado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Deputados, como Charles Santos, Zé Laviola e o ex-deputado João Leite, vestiram o uniforme do grupo. Leite, que já serviu no Batalhão de Montanha do Exército, afirmou que viu na iniciativa uma forma de se aproximar mais de Jesus, a quem o movimento chama de “legendário número 1”.
Outro nome do grupo é o vice-governador Mateus Simões, pré-candidato ao governo de Minas. Em janeiro de 2025, ele compartilhou uma foto em que aparece após uma imersão com o selo de \"legendário 70.079\", afirmando: “Não foi sobre resistência, foi sobre encontrar a forma de falar com Jesus... por me sentir mais completo”. Até o momento, ele não comentou publicamente sobre a participação no movimento.
Especialistas em política e laicidade manifestam preocupação com a presença institucional dos Legendários: o sociólogo Jorge Alves, do Movimento Fé e Política, alerta que homenagens e leis direcionadas a um grupo masculino e religioso comprometem a neutralidade do Estado.
Já o cientista político Adriano Cerqueira pondera que o avanço pode refletir o crescimento do conservadorismo, lembrando que \"um Estado laico não é ateu\" e que expressões religiosas diversas podem coexistir no espaço público.
Ambos ressaltam que o movimento dialoga com o eleitorado cristão conservador, que valoriza papéis como o de provedor familiar. Entretanto, Alves adverte: “Quando o Estado celebra a identidade de um grupo, mas silencia sobre a de outros, ele não é neutro.”
Calendário oficial: leis no Paraná e Mato Grosso definiram 23 de julho como Dia dos Legendários. Em Minas, um projeto similar tramita na Assembleia Legislativa, enquanto em Belo Horizonte um vereador aprovou a inclusão da data no calendário local, aguardando sanção do prefeito.
O movimento exige investimento de cerca de R$ 1.500 por imersão — durante a qual os participantes permanecem incomunicáveis — e exige que levem Bíblia, independente de suas igrejas.
Ao final, observa-se que o fenômeno dos Legendários não apenas promove desafios físicos e espirituais, mas também reforça a influência do conservadorismo religioso no espaço político mineiro, mobilizando lideranças que buscam atender a um eleitorado engajado por valores de fé e masculinidade.