Câncer lidera causas de morte em várias cidades do Brasil, revela estudo
Número de municípios onde o câncer supera doenças cardiovasculares como principal causa de óbitos dobrou em duas décadas, aponta pesquisa.
Por Plox
20/10/2024 11h41 - Atualizado há cerca de 1 mês
Um estudo recente revelou que o câncer já é a principal causa de morte em diversas cidades brasileiras. A pesquisa, conduzida entre os anos 2000 e 2019, mostrou que o número de municípios onde a doença lidera as causas de óbito quase dobrou, saltando de 7% para 13%. Essa tendência evidencia a crescente gravidade do câncer no país, que, embora ainda fique atrás das doenças cardiovasculares em nível nacional, tem se tornado a principal causa de morte em determinadas regiões.
Resultados do estudo
A pesquisa, conduzida por especialistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras instituições, como a Fundação Getúlio Vargas e a Universidade Federal de Uberlândia, foi publicada no The Lancet Regional Health – Americas. Utilizando dados de 5.570 municípios brasileiros, fornecidos pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), os estudiosos analisaram as principais causas de morte e focaram especialmente nas mortes prematuras, que ocorrem entre os 30 e 69 anos.
Entre os resultados, constatou-se que, enquanto as mortes por doenças cardiovasculares caíram em 25 dos 27 estados do Brasil, as mortes por câncer cresceram em 15 estados. A mortalidade por doenças cardíacas, como infarto e derrame, apresentou uma queda expressiva de quase 40%, enquanto as mortes por câncer diminuíram apenas 10% no período analisado.
Explicações para a transição nas causas de morte
A redução nas mortes por doenças cardiovasculares está ligada, em grande parte, aos avanços médicos e campanhas de conscientização. “Os avanços no diagnóstico e no tratamento, bem como as campanhas antitabagismo, tiveram grande impacto na queda da mortalidade cardiovascular”, explica Leandro Rezende, um dos autores do estudo e coordenador do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. Contudo, ele ressalta que o câncer é um conjunto de mais de cem doenças com causas variadas, o que dificulta a prevenção e o tratamento de forma generalizada.
Por outro lado, doenças cardiovasculares são mais sensíveis a mudanças no estilo de vida e a tratamentos disponíveis. “O resultado mostra que, quanto maior o acesso a tratamento e prevenção, menor a mortalidade”, acrescenta Rezende. A prevenção de infartos e derrames, por exemplo, é alcançada por meio de controle de fatores como hipertensão, colesterol e diabetes, enquanto o tratamento do câncer frequentemente depende de diagnósticos precoces e tecnologias sofisticadas, muitas vezes indisponíveis em regiões mais vulneráveis.
Desigualdade no acesso ao tratamento
O estudo também revelou desigualdades regionais significativas. Nas áreas mais pobres do Brasil, especialmente em estados como Amapá, Roraima e Acre, houve um aumento nas mortes por câncer, enquanto as mortes por doenças cardiovasculares caíram. Isso demonstra que, embora as políticas de prevenção tenham tido êxito em reduzir mortes por doenças cardíacas, a falta de acesso a tratamentos e diagnósticos precoces de câncer nessas regiões agrava o problema.
O cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento especializado é crucial para a diferença nas taxas de mortalidade. “Do ponto de vista cardiovascular, a conscientização de tratar fatores de risco e o acesso ao sistema de saúde para tratar um infarto agudo, por exemplo, é mais rápido e acessível do que o diagnóstico precoce de um câncer de mama ou de intestino”, afirma Segalla.
Fatores de risco compartilhados e políticas de prevenção
Apesar das diferenças nos tratamentos, o câncer e as doenças cardiovasculares compartilham muitos fatores de risco, como tabagismo, sedentarismo, obesidade e má alimentação. O grande desafio, segundo Rezende, é lidar com a prevenção do câncer, que é mais complexa devido às diversas naturezas dos tumores.
Ele enfatiza que políticas públicas são essenciais para melhorar a prevenção e o acesso ao tratamento, especialmente em municípios menores e mais carentes. “Isso envolve campanhas antitabaco, controle do consumo de álcool e combate à obesidade, que é um fator de risco para vários tipos de câncer”, destaca. Mudanças no estilo de vida poderiam evitar até um terço das mortes por câncer, de acordo com os pesquisadores.