Esquema de creches conveniadas leva Justiça a autorizar investigação contra Ricardo Nunes

Prefeito de São Paulo é alvo de inquérito sobre desvios em creches; defesa afirma ausência de indícios e promete recorrer.

Por Plox

20/11/2024 13h56 - Atualizado há cerca de 16 horas

A Justiça Federal autorizou a Polícia Federal (PF) a investigar o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por suspeitas de envolvimento em desvios de recursos públicos em creches conveniadas à Prefeitura. A decisão, assinada pela juíza Fabiana Alves Rodrigues, da 8ª Vara Federal Criminal, se baseia em elementos coletados durante a Operação Daycare, iniciada em 2021. O caso aponta suposta ligação de Nunes, então vereador, com empresas suspeitas, incluindo uma pertencente a familiares.

Foto: Agencia Brasil

Operação Daycare e desvio de verbas públicas

A Operação Daycare revelou um esquema de desvio de dinheiro público destinado a creches que atendem crianças de até 3 anos. Dos 152 estabelecimentos investigados, 112 apresentaram irregularidades nas prestações de contas. Segundo a PF, algumas organizações sociais responsáveis pelas creches utilizavam notas fiscais falsas emitidas por empresas fornecedoras “noteiras”. Parte dos valores desviados, estimados em mais de R$ 1 bilhão em quatro anos, retornava para líderes das instituições ou pessoas próximas.

Em nota oficial, a defesa de Nunes contestou a decisão que permitiu a continuidade do inquérito, afirmando que "durante cinco anos, diversas pessoas foram investigadas e indiciadas, se descartando qualquer ato, direto ou indireto, que o pudesse relacionar aos fatos". Advogados do prefeito informaram que irão entrar com um habeas corpus para tentar trancar as investigações.

Envolvimento da família de Ricardo Nunes

A investigação também aponta para uma empresa ligada à família de Nunes, a Nikkey Serviços, do ramo de dedetização. A PF identificou que R$ 31,5 mil foram transferidos de uma empresa investigada para uma conta pessoal de Nunes e para a Nikkey Serviços, cujas sócias são a mulher e a filha do prefeito.

Elaine Targino da Silva, presidente da ACRIA, uma das organizações sociais investigadas, aparece como funcionária registrada da Nikkey Serviços. A PF considera "suspeita" essa ligação de Nunes, afirmando que ele teria relação com uma das principais empresas do esquema criminoso. O prefeito já declarou anteriormente que os serviços prestados pela Nikkey Serviços ocorreram sem qualquer irregularidade.

Conclusões da PF e desdobramentos

O relatório final da Operação Daycare indica que as entidades investigadas usaram guias de recolhimento de impostos falsificadas. Além disso, a dona de uma das empresas que emitia notas frias foi indiciada pelos crimes de organização criminosa, falsificação de documentos e peculato. A PF solicitou à Justiça o aprofundamento das investigações para esclarecer o possível envolvimento de Nunes e sua família no esquema.

Ricardo Nunes, candidato à reeleição pelo MDB, segue negando qualquer participação no caso. A investigação, no entanto, coloca o prefeito sob intensa pressão política e jurídica às vésperas de um novo ciclo eleitoral.

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