Calor extremo: entenda por que o mundo está batendo tantos recordes de temperatura
Especialistas explicam os fatores que impulsionam o aumento do calor global e alertam para o futuro
Por Plox
21/02/2025 08h47 - Atualizado há 4 meses
Nos últimos anos, o mundo tem registrado temperaturas recordes de forma cada vez mais frequente. Apenas em 2024, dois dias entraram para a história como os mais quentes desde 1940, conforme os cálculos do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF) – Programa Copernicus. De acordo com especialistas, essa tendência pode continuar se intensificando caso não haja uma redução significativa na emissão de CO₂ na atmosfera.

Recordes de temperatura global
Segundo dados do Copernicus, o dia mais quente da história recente foi 22 de julho de 2024, quando a temperatura média global atingiu 17,16°C. Logo em seguida, em 23 de julho, a média ficou praticamente no mesmo nível, com 17,15°C. Antes disso, o recorde pertencia ao dia 6 de julho de 2023, quando a média global foi de 17,08°C.
Além disso, 2024 foi considerado o ano mais quente desde 1950, sendo o primeiro a ultrapassar a marca de 1,5°C acima das temperaturas registradas no período pré-industrial (1850). O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu que esse valor seria o limite máximo de aquecimento global aceitável para evitar impactos climáticos irreversíveis.
Desde então, o mundo enfrenta uma sequência alarmante: em 18 dos últimos 19 meses, a temperatura média global do ar na superfície esteve 1,5°C acima do nível pré-industrial. A única exceção foi julho de 2024. Janeiro de 2025 reforçou essa tendência, registrando um aumento de 1,75°C em relação aos níveis do século XIX.
O calor no Brasil
O Brasil também tem sentido os efeitos desse aquecimento global. Desde o início de 2025, o país enfrentou três fortes ondas de calor:
- Primeira onda: entre 17 e 23 de janeiro, atingindo o Rio Grande do Sul.
- Segunda onda: entre 2 e 12 de fevereiro, novamente impactando o Rio Grande do Sul.
- Terceira onda: entre 17 e 20 de fevereiro, abrangendo Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Bahia.
No Rio de Janeiro, as temperaturas ultrapassaram os 40°C em diversos dias consecutivos. Em 17 de fevereiro, os termômetros marcaram 44°C, o maior registro desde 2014. Já em Belo Horizonte, o dia mais quente de 2025 até agora foi 21 de janeiro, com máxima de 34,4°C.
Por que o planeta está esquentando?
De acordo com Emilio Lebre La Rovere, professor e coordenador do Centro Clima da UFRJ, o aumento extremo das temperaturas está diretamente relacionado às atividades humanas, especialmente à queima de combustíveis fósseis, como carvão mineral, petróleo e seus derivados, além do gás natural.
“Todos esses combustíveis contêm carbono e hidrogênio. Quando queimamos, o carbono se combina com o oxigênio do ar e gera CO₂, o gás carbônico”, explica. Esse gás é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa, que impede a dissipação do calor para o espaço, retendo-o na atmosfera e aquecendo a superfície terrestre.
O especialista destaca que a concentração de CO₂ na atmosfera aumentou significativamente desde a Revolução Industrial. “Antes, a quantidade desse gás era de 280 partes por milhão. Hoje, já passa de 450 partes por milhão, um crescimento de quase 60%. O homem realmente está mudando a natureza”, alerta.
O que esperar para o futuro?
A mudança climática não afeta apenas a temperatura, mas também as correntes oceânicas e os padrões climáticos em todo o planeta. “A corrente do Golfo do México, por exemplo, mantém o clima do norte da Europa mais ameno do que o do Canadá, mesmo estando na mesma latitude. Caso essa corrente enfraqueça devido ao aquecimento global, o clima na região pode se tornar muito mais frio”, explica Emilio.
Para estabilizar a temperatura global, o professor afirma que é necessário atingir as chamadas "emissões líquidas zero", ou seja, garantir que a quantidade de CO₂ emitida seja compensada pela absorção de carbono pela vegetação.
“As previsões já indicavam que o cenário se agravaria, e continuará piorando enquanto não reduzirmos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa. O Acordo de Paris estabeleceu a meta de zerar as emissões líquidas até 2050, mas ainda temos um longo caminho pela frente”, afirma.
Enquanto isso, os impactos das mudanças climáticas devem continuar sendo sentidos em todo o mundo, com eventos extremos como incêndios florestais, elevação do nível do mar, ondas de calor intensas, tempestades tropicais mais violentas e chuvas torrenciais.
Principais marcos do calor global
- 2024 foi o ano mais quente desde 1850.
- Janeiro de 2025 foi o mês de janeiro mais quente desde 1991.
- 22 e 23 de julho de 2024 registraram as temperaturas globais mais altas desde 1940.
- 6 de julho de 2023 detinha o recorde anterior de dia mais quente do mundo.
- Desde 2023, o planeta vive uma sequência de 18 meses (dentro de um período de 19) com temperaturas 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.