Médica aplica remédio restrito em amiga, que entra em coma vigil
Engenheira está internada há cinco meses; família denuncia caso ao Ministério Público e CRM-MG
Por Plox
21/02/2025 07h49 - Atualizado há 2 meses
Uma engenheira de produção de 31 anos está internada em estado de coma vigil em Belo Horizonte após receber a aplicação de um medicamento restrito a ambiente hospitalar. O procedimento foi realizado por uma amiga anestesista, e a família da vítima já denunciou o caso ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG). Nos últimos cinco meses, os parentes desembolsaram aproximadamente R$ 500 mil com o tratamento da jovem.

Aplicação do medicamento e agravamento do quadro
Letícia de Souza Patrus Pena, que sofre com dores crônicas na coluna, já havia passado por cirurgia para tratar uma hérnia, mas continuava com desconfortos intensos. Em agosto de 2024, aceitou a sugestão da amiga de infância, a médica anestesista Natália Peixoto de Azevedo Kalil, para a aplicação de um medicamento. O primeiro procedimento apresentou efeito positivo, eliminando as dores.
Porém, na segunda aplicação, realizada em 20 de setembro na casa de Natália, a situação tomou um rumo trágico. Pouco depois da injeção, Letícia sofreu convulsões, confusão mental e uma parada cardiorrespiratória. Levado ao hospital, o caso foi registrado com um período de 18 minutos de parada, resultando em uma grave lesão cerebral.
A médica informou à equipe hospitalar os medicamentos administrados, incluindo o cloridrato de ropivacaína, cuja bula indica uso exclusivo em ambientes clínicos, com monitoramento e suporte à vida.
Família se revolta e busca justiça
Inicialmente, a mãe da vítima, Flávia Bicalho de Souza, de 55 anos, acreditava que Natália havia prestado socorro essencial à filha. No entanto, ao descobrir que o medicamento não poderia ser utilizado fora de um ambiente hospitalar, ficou indignada.
“Eu achava que a Natália tinha salvado a vida da Letícia, cheguei a agradecer. Mas depois soube que esse procedimento era proibido em casa. Um dos três medicamentos jamais poderia ter saído de um hospital ou clínica”, afirmou Flávia.
A família tentou contato com Natália para que ela arcasse com os custos médicos, mas, sem resposta satisfatória, recorreu à Justiça. “Foi um choque enorme. Ela me chamava de tia Flavinha. Letícia foi madrinha do casamento dela, fez um discurso lindo. Procuramos um advogado, que fez contato para apresentar uma planilha de gastos, mas não tivemos retorno. Até hoje, já gastamos cerca de R$ 500 mil”, revelou a mãe.
Denúncia por tentativa de homicídio
A família de Letícia formalizou uma queixa-crime no Ministério Público por tentativa de homicídio e acionou o CRM-MG pedindo a cassação do registro da médica.
“No MP, fizemos a queixa para investigar dolo eventual, pois Natália sabia dos riscos, sabia que Letícia podia ter uma parada cardíaca e, mesmo assim, realizou o procedimento em casa”, afirmou Flávia.
Posicionamento da médica e do CRM-MG
Natália Peixoto de Azevedo Kalil, casada com um dos filhos do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, foi procurada para se manifestar, mas optou por não comentar o caso.
Já o CRM-MG informou que os processos em andamento seguem sob sigilo, conforme prevê o Código de Processo Ético Profissional.