Descoberta arqueológica revela primeiros vestígios de mineração de ouro no Jaraguá

Achados datam do século 16 e incluem tanques utilizados na lavagem de minério com mão de obra indígena escravizada

Por Plox

21/04/2024 11h09 - Atualizado há 15 dias

Em uma expedição histórica pela floresta do Jaraguá, na Zona Norte de São Paulo, pesquisadores localizaram sinais de exploração de ouro que remontam ao início da colonização brasileira. Este sítio arqueológico, preservado pela comunidade Guarani Mbya, inclui cavas e tanques com mais de 400 anos, onde o ouro era processado por indígenas escravizados.

O geólogo Francisco Adrião Neves da Silva, um dos líderes da pesquisa, detalhou como a tecnologia moderna ajudou a equipe a identificar e mapear estas estruturas antigas. "Utilizamos imagens de satélite e criamos modelos 3D para visualizar a extensão das escavações", explicou Silva 

Embora a área tenha sido explorada intensamente por mais de dois séculos, o geólogo esclarece que não há mais ouro economicamente viável para extração. O local agora faz parte de um cemitério e alguns terrenos habitados, marcando a história de exploração e resistência da região.

Foto: Reprodução/TV Globo

A luta guarani pela preservação cultural

Os Guarani Mbya, que hoje guardam essa terra, enfrentam desafios contínuos em proteger seu território e sua cultura. Davi Popygua, professor e líder local, compara a floresta a um templo espiritual, questionando o reconhecimento de sua sacralidade pelos não indígenas.

A comunidade também luta pela demarcação oficial de suas terras. Daniel Pierre, antropólogo, destaca a importância deste processo para a sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas. "Desde a Constituição de 1988, lutamos por uma garantia de futuro através da demarcação", disse Pierre.

A série de reportagens "Memórias Indígenas", da qual esta matéria faz parte, busca jogar luz sobre essas histórias de resistência e preservação cultural que definem não apenas o Jaraguá, mas também outras áreas como Parelheiros, onde vivem cerca de 2.000 indígenas.

A resistência indígena, enraizada em séculos de história, continua a ser uma força vital na luta pelo reconhecimento e pela justiça. Como aponta Priscila Parapoty, líder em Tenondé Porã, o desafio é também contra o preconceito e a ignorância sobre a presença indígena: "Muitos ao nosso redor nem sabem que somos daqui, pensam que somos estrangeiros", lamenta.

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