A jornada do Revalida: Uma radiografia do exame de validação de diplomas médicos
Revalida, é um dos passos fundamentais na vida de médicos formados no exterior que buscam exercer a profissão no Brasil.
Por Plox
21/05/2023 13h06 - Atualizado há mais de 1 ano
O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira, conhecido como Revalida, é um dos passos fundamentais na vida de médicos formados no exterior que buscam exercer a profissão no Brasil. Contudo, os dados coletados pelo Inep através da Lei de Acesso à Informação (LAI) revelam uma jornada desafiadora, com menos da metade dos candidatos conseguindo ultrapassar a primeira fase.
A primeira etapa: A prova escrita
Desde 2011, quando o exame passou a ser aplicado pelo governo federal, mais de 36 mil médicos formados fora do Brasil tentaram avançar na primeira etapa do Revalida. Essa fase envolve uma avaliação escrita intensiva, que é crucial para avançar no processo de validação do diploma.
No entanto, a barreira parece ser alta. Dos mais de 36 mil candidatos que se submeteram à prova escrita, apenas 16.536 conseguiram avançar para a próxima fase - uma taxa de aprovação de apenas 45,5%.
A segunda etapa: A prova prática
Uma vez que os candidatos avançam para a segunda etapa, a taxa de aprovação sobe significativamente para 80,5%. Esta fase consiste em uma avaliação prática, um "teste de estrada" para os futuros médicos, onde devem demonstrar suas habilidades clínicas. Dos 14.892 candidatos que chegaram a essa etapa, 11.988 conseguiram uma aprovação.
Para Milton de Arruda Martins, professor de medicina da FMUSP e especialista em formação médica, a diferença nas taxas de aprovação entre as duas etapas reflete o objetivo do Revalida. "É mais fácil avaliar conhecimentos médicos com provas escritas bem-feitas", disse ele, "Mas com essa prova, você não consegue saber se a pessoa é médica de verdade. É preciso ver o médico atuando, conversando com o paciente. A segunda fase serve para isso."
O peso da nacionalidade no Revalida
O exame, em seus 12 anos de existência, já contou com a participação de médicos de 88 nacionalidades diferentes. Mas são os brasileiros que representam a maior parcela dos candidatos - quase dois terços dos participantes e dos aprovados em ambas as fases. Dos cerca de 12 mil que realizaram as duas fases e obtiveram aprovação, 7.471 são brasileiros.
Os cubanos ocupam a segunda posição em termos de aprovação absoluta, com 2.054 médicos conseguindo ultrapassar o rigoroso exame Revalida.
Enfrentando os desafios do Revalida
O Revalida não é apenas uma prova, mas uma jornada complexa que desafia os candidatos a superarem suas limitações. A alta taxa de reprovação levou muitos a buscar auxílio em cursos preparatórios, alguns com preços que chegam a R$ 5 mil por dois dias de aulas.
Daniel Furini, de 36 anos, é um exemplo de sucesso nesta jornada. Ele deixou o Brasil para estudar medicina na Argentina e retornou ao país para enfrentar o desafio do Revalida. Elogiou o teste por sua universalidade na primeira etapa, afirmando: "A principal dificuldade não é na primeira fase, porque ela é universalizada. É basicamente estudar a base teórica". Furini, que passou no Revalida na primeira tentativa, destacou que a maior dificuldade está na preparação para a segunda fase: "O problema todo é como estudar para a segunda fase. Você precisa de outra pessoa, não é um método que estuda sozinho."
Inovação no preparo para a segunda fase do Revalida
Observando a dificuldade da segunda fase do Revalida, Furini decidiu agir e criar uma solução. Ele projetou uma plataforma, a Pense Revalida, com o objetivo de auxiliar os candidatos na preparação para a fase prática do exame.
Na Pense Revalida, os candidatos podem simular as estações práticas do exame, praticando com pacientes fictícios interpretados por atores contratados pelo Inep. Além disso, a plataforma permite que os candidatos encontrem outros candidatos em tempo real, para praticarem juntos, trocando papéis e avaliando o desempenho uns dos outros.
Furini compartilhou: "Se a pessoa não tem um parceiro a gente adiciona num grupo, e eles se organizam para treinar. A gente tem 1,4 mil treinamentos diários". Desde o lançamento no final de fevereiro, o serviço já faturou R$ 180 mil, mostrando uma demanda significativa.
Ainda uma longa jornada
A preparação para o Revalida é, sem dúvida, uma jornada árdua para muitos médicos que aspiram exercer a profissão no Brasil. As taxas de aprovação na primeira fase do exame revelam a necessidade de preparação sólida e constante para enfrentar o desafio.
No entanto, a existência de iniciativas como a Pense Revalida mostra que existem recursos e apoio disponíveis para ajudar os médicos a avançarem nesse caminho. Apesar dos desafios, o Revalida continua sendo um componente essencial na garantia de que os médicos formados no exterior atendam aos padrões de prática médica no Brasil.