Uso da fome como arma leva Brasil a acusar Israel de crime de guerra em Gaza

Itamaraty denuncia ofensiva israelense, critica bloqueio humanitário e alerta que negar alimentos à população é prática proibida pelo direito internacional

Por Plox

21/05/2025 12h18 - Atualizado há 1 dia

O governo brasileiro denunciou, nesta quarta-feira (21), as ações de Israel na Faixa de Gaza como possíveis crimes de guerra, destacando o bloqueio humanitário que impede a entrada de suprimentos básicos como alimentos e remédios. A acusação se baseia em normas internacionais que proíbem o uso da fome como método de conflito armado.


Imagem Foto: Reprodução de vídeo


Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o bloqueio total imposto por Israel há dois meses tem agravado drasticamente a crise humanitária na região. A nota do Itamaraty destaca que essa prática não apenas compromete a sobrevivência da população palestina, como também se configura como violação grave do direito internacional humanitário.


“Uso da fome como método constitui crime de guerra”, alerta o documento, reiterando a necessidade de acesso imediato e irrestrito à ajuda humanitária. O governo brasileiro também pediu o fim das hostilidades, retirada das tropas israelenses de Gaza e a libertação dos reféns ainda em poder do Hamas.


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O comunicado brasileiro denuncia ainda os efeitos devastadores da recente escalada militar israelense: mais de 300 palestinos mortos nos últimos dias, entre eles crianças e mulheres, além de mais de 60 mil deslocados. As ações de Israel foram condenadas “nos mais fortes termos”, segundo o Itamaraty.


Outro ponto criticado é a intenção do governo israelense de assumir o controle total da Faixa de Gaza, o que, de acordo com a chancelaria brasileira, vai de encontro às normas do direito internacional. O Brasil reafirmou seu apoio à criação de um Estado palestino como solução legítima e duradoura para o conflito.



A ofensiva militar de Israel, iniciada após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, já causou a morte de mais de 53 mil palestinos, conforme números divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza e considerados confiáveis pela ONU. Organizações como a Médicos Sem Fronteiras classificaram a ajuda permitida por Israel como insuficiente para atender aos 2,4 milhões de habitantes da região, chamando a medida de “cortina de fumaça”.


Apesar da liberação de 93 caminhões com suprimentos na terça-feira (20), entidades internacionais consideram a quantidade irrisória diante da gravidade da situação. A ONU informou que, mesmo após autorização para envio de ajuda, houve atraso na entrega dos materiais.



Os Emirados Árabes Unidos também firmaram acordo com Israel para enviar alimentos que, segundo comunicado de Dubai, atenderiam cerca de 15 mil pessoas em uma fase inicial. A data para envio, no entanto, não foi divulgada.


Durante audiência no Senado, o chanceler Mauro Vieira classificou a situação como uma “carnificina” e lamentou a paralisia do Conselho de Segurança da ONU. “Há um número elevadíssimo de crianças mortas”, afirmou. Vieira cobrou uma atuação mais firme da comunidade internacional.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, já havia se posicionado anteriormente contra a ofensiva israelense, que chamou de “genocídio”. Lula também reiterou sua defesa pela criação de dois Estados, com base nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967.



O ataque de 7 de outubro, que deu início ao atual conflito, deixou 1.218 mortos em Israel, a maioria civis, e resultou no sequestro de 251 pessoas pelo Hamas. Atualmente, 57 ainda estão em cativeiro e 34 foram declaradas mortas. Uma trégua mediada por Catar, Egito e EUA durou até 18 de março, quando foi encerrada por Israel. Desde então, as negociações de paz estão paralisadas, e o Catar alertou que o agravamento da ofensiva ameaça qualquer possibilidade de solução pacífica.


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