​​​​​​​Gari defende TCC vestido com roupa de trabalho: “Antes eu tinha vergonha, hoje tenho orgulho"

“A gente que vem de baixo sabe o significado disso. É por isso que é tão importante a universidade pública de qualidade para quem não tem condições de pagar”

Por Plox

21/06/2019 08h07 - Atualizado há quase 5 anos

“Trabalho e desigualdade social na contemporaneidade: reflexões sobre a invisibilidade dos agentes de limpeza pública” foi o tema escolhido pelo gari Ednilson de Pontes Silva, de 31 anos, estudante do curso de história de uma universidade pública.

Deninho, como é mais conhecido, chegou ao campus da Universidade Estadual da Paraíba, na cidade Guabira, vestido com o macacão que usa no trabalho para defender o seu TCC, na presença de amigos, familiares, professores e outros estudantes.

Aprovado em 2013 pelo antigo vestibular da UEPB, ele iniciou a faculdade de história no ano seguinte.

(Foto: divulgação/Dje Silva)(Foto: divulgação/Dje Silva)

“Antes eu tinha vergonha do meu trabalho, hoje eu tenho orgulho. Quando entrei na faculdade, passei uns dois períodos sem dizer qual era a minha profissão, mas depois vi que não tinha nada de errado em ser gari e que eu devia me orgulhar por exercer uma função importante e honesta, até que relatei minha história para os amigos em uma confraternização da turma e eles ficaram felizes por eu estar podendo ter acesso à universidade”, contou Ednilson ao portal Razõesparaacreditar.

Ednilson também é filho de um gari, o seu Miguel Martins da Silva, de 60 anos, que continua exercendo a profissão na sua cidade até hoje. Trabalhando pela manhã como gari, ele usava a parte da tarde para estudar e, para ir de Pirpirituba -cidade onde mora- à Guarabira, utilizava o ônibus escolar. Depois, conseguiu comprar uma moto que usava para ir assistir às aulas. O gari e estudante também dividia o tempo com as obrigações de casa, já que foi pai durante o período em que se encontrava fazendo o curso.

“Eu resolvi falar sobre este tema porque senti o quanto somos discriminados socialmente. Pesquisei sobre o tema e encontrei apenas um estudioso que se debruçou sobre o tema, então decidi mostrar a realidade desses trabalhadores tão sofridos e tão importantes”, relata Ednilson.

(Foto: divulgação/Dje Silva)(Foto: divulgação/Dje Silva)

Na intenção de chamar a atenção da sociedade para o trabalho que os garis exercem, decidiu ir para a defesa do TCC com a roupa do trabalho. “Eu sempre comentava com minha esposa que qualquer dia faria isso porque sempre vêm para as aulas policiais fardados, advogados de terno, enfermeiros de roupa de trabalho e por que não seria possível um gari vir com o fardamento do seu ofício? Que estranheza isso provoca? Meu objetivo era chocar mesmo e fazer refletir”, indagou.

Para a elaboração da pesquisa, Ednilson entrevistou dez garis. Ao chegar no final de sua apresentação, ele recebeu nota máxima: 10. O bolo de confraternização teve como tema os agentes de limpeza pública. “A gente que vem de baixo sabe o significado disso. É por isso que é tão importante a universidade pública de qualidade para quem não tem condições de pagar”, disse o gari e agora professor Ednilson Pontes ao portal Razões.

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