Brasil enfrenta dilema sobre importação de diesel russo após pressão da Otan
País pode ter dificuldades logísticas e econômicas para substituir os cerca de 40% do diesel que hoje vêm da Rússia
Por Plox
21/07/2025 10h45 - Atualizado há 11 dias
O Brasil poderá encarar um cenário desafiador no setor de combustíveis caso ceda à pressão internacional e interrompa a importação de diesel da Rússia. A preocupação foi reforçada após declarações do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que sugeriu uma ruptura comercial com Moscou como condição para o país escapar de possíveis sanções do bloco.

Atualmente, os russos são responsáveis por mais de 40% do diesel importado pelo Brasil, o que representa mais de US$ 2,5 bilhões em compras apenas no primeiro semestre do ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A segunda maior origem do combustível é os Estados Unidos, seguidos da Arábia Saudita, com operações próximas a R$ 1,5 bilhão.
A explicação para a presença dominante da Rússia no fornecimento ao Brasil, segundo o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), está nas sanções europeias impostas ao governo de Vladimir Putin por causa da guerra contra a Ucrânia. Com o mercado europeu fechado, o diesel russo passou a ser oferecido a preços mais acessíveis globalmente. $&&$“Muitas vezes, o combustível russo é até R$ 0,10 mais barato do que os valores praticados internacionalmente”$, destaca Dantas.
Essa dependência cria um risco significativo para o Brasil. Caso o fornecimento russo seja cortado, o país pode sofrer com escassez e aumento de preços. “O Brasil teria que recorrer a alternativas como Emirados Árabes, Kuwait e Índia. Mas é uma substituição complexa”, alerta Dantas, lembrando ainda que os EUA, apesar de serem um fornecedor histórico, têm priorizado o mercado europeu diante da guerra na Ucrânia.
Além disso, tensões comerciais entre Brasil e EUA aumentaram com as recentes declarações de Donald Trump, que mencionou a aplicação de tarifas de até 50% às exportações brasileiras. Isso complica ainda mais o cenário, já que os norte-americanos ocupavam, até 2023, a liderança no fornecimento de diesel ao país.
Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), observa que ainda não há definições concretas sobre mudanças nas importações, mas admite a preocupação.
“Estamos atentos. Se a Rússia sair do mercado, haverá impacto direto na oferta e nos preços do diesel”, pontua Araújo.
Segundo ele, o desequilíbrio no mercado global causado pela guerra impactou diretamente os fluxos comerciais. $&&$“No passado, a maior parte do diesel vinha dos EUA. Hoje, com eles atendendo a Europa, o Brasil corre risco de ficar sem alternativas viáveis a curto prazo”$, explica.
A Petrobras, por sua vez, afirma que não realiza importações de diesel russos. No entanto, segundo Eric Gil Dantas, a estatal continua sendo uma das principais compradoras externas, com foco em negociações com o Golfo Pérsico e os Estados Unidos. Ele destaca a importância estratégica da companhia nesse momento, já que possui maior capacidade de buscar alternativas ao abastecimento.
Como resposta a esse cenário, a Petrobras tem investido na expansão da produção nacional de diesel. Em Pernambuco, projetos recentes aumentaram a capacidade instalada de refino, e no Rio de Janeiro, um investimento superior a R$ 33 bilhões foi anunciado para o setor. Mesmo assim, esses projetos ainda levarão pelo menos dois anos para refletir efetivamente em maiores volumes no mercado interno.
$&&$“Esse atraso mostra como foi um erro estratégico não investir em refinarias nos últimos governos, mesmo com o aumento da extração de petróleo no país”$, finaliza Dantas.
O Brasil, agora, se vê em um impasse geopolítico e econômico que poderá redefinir sua política energética e suas alianças comerciais nos próximos anos.