Tecnologia de marcapasso cerebral promete avanço no tratamento do Parkinson
Estudo revela impacto positivo na redução de sintomas motores com dispositivo adaptativo
Por Plox
21/08/2024 08h56 - Atualizado há 5 meses
Um avanço significativo no tratamento da doença de Parkinson foi revelado em um estudo recente, publicado na revista Nature Medicine em 19 de agosto de 2024. A pesquisa destacou uma nova tecnologia de marcapasso cerebral, que se adapta de forma personalizada à atividade cerebral dos pacientes, prometendo melhorias na execução de movimentos comprometidos pela doença.
Funcionamento do marcapasso cerebral adaptativo
A inovação reside em uma forma de estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês) que se ajusta de acordo com a necessidade momentânea do paciente, denominada DBS adaptativa (aDBS). Essa técnica permite que o estímulo elétrico varie conforme a atividade cerebral, especialmente quando o efeito da medicação começa a diminuir. Atualmente, a abordagem padrão é a estimulação cerebral profunda contínua (cDBS), que opera com uma intensidade fixa, direcionada para áreas do cérebro como o núcleo subtalâmico ou a porção interna do globo pálido.
Comparação entre aDBS e cDBS
O estudo foi realizado por pesquisadores das Universidades da Califórnia e da Pensilvânia, que implantaram o dispositivo em quatro pacientes. Inicialmente, a estimulação contínua (cDBS) foi otimizada, processo que levou entre sete e 31 meses. Posteriormente, os algoritmos para a estimulação adaptativa foram desenvolvidos, com base na leitura de oscilações no núcleo subtalâmico ou no córtex motor, indicando estados de alta ou baixa dopamina, neurotransmissor deficiente na doença de Parkinson. Essa fase de personalização durou até seis meses.
Na fase final do estudo, os pacientes alternaram entre os estímulos contínuos e adaptativos sem saber qual estava sendo aplicado. Os resultados mostraram que a aDBS conseguiu reduzir de forma expressiva o tempo em que os pacientes experimentavam sintomas motores incômodos, com uma redução que variou de 22,7%-36,3% para 10,2%-16,3% do tempo, alcançando em um caso a redução de quase 60%.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar dos resultados promissores, a adoção clínica em larga escala do aDBS enfrenta desafios significativos. Segundo as pesquisadoras Lauren Hammer, Carina Oehrn e Stephanie Cernera, embora a tecnologia tenha mostrado eficácia, sua configuração atual exige muitas horas de trabalho de especialistas altamente capacitados, o que ultrapassa as possibilidades de uma consulta médica padrão. Elas apontam que a automação desse processo é um dos próximos passos para tornar a aDBS mais acessível.
Além disso, a implementação da própria cDBS já enfrenta limitações, como destacou Denis Bichuetti, professor de neurologia da Unifesp. Ele ressalta que, apesar de ser uma prática consolidada em centros especializados, o acesso ao tratamento é restrito devido a custos e complexidade técnica. No Brasil, o tratamento completo pode custar cerca de R$ 200 mil, enquanto nos Estados Unidos, o valor pode chegar a dezenas de milhares de dólares.
Expansão das aplicações e novos horizontes
Os próximos passos da pesquisa incluem não apenas a automação da configuração da aDBS, mas também a ampliação dos sinais neurais captados, o que poderia permitir um tratamento ainda mais personalizado. Além disso, os pesquisadores estão explorando a aplicação dessa tecnologia adaptativa em outras condições neurológicas, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o que poderia abrir novas frentes no tratamento dessas doenças.
A descoberta de que o marcapasso cerebral adaptativo pode melhorar substancialmente a qualidade de vida dos pacientes de Parkinson representa um marco no tratamento da doença, mas ainda exige desenvolvimento e acessibilidade para se tornar uma realidade comum na prática médica.