Demanda por alimentos proteicos transforma cenário industrial em Minas
Popularização das canetas emagrecedoras, foco em bem-estar e mercado fitness aquecido impulsionam expansão do setor de proteínas no Estado
Por Plox
21/09/2025 10h55 - Atualizado há 2 dias
A busca por uma vida mais saudável e o aumento do uso de medicamentos para emagrecimento estão impulsionando uma verdadeira revolução na indústria alimentícia de Minas Gerais. Com a popularização das canetas emagrecedoras, que exigem uma alimentação com proteínas adequadas para manter a massa muscular, o mercado de produtos proteicos tem se expandido com força no Estado.

Nos supermercados, os corredores agora abrigam áreas exclusivas para alimentos ricos em proteínas. Essa movimentação não se limita aos praticantes de academia. Pessoas de várias idades e perfis têm aderido a esse estilo de vida, buscando longevidade e bem-estar por meio da alimentação. Essa transformação impacta diretamente o setor industrial mineiro, que tem recebido altos investimentos para acompanhar a nova demanda.

Dados da Grand View Research indicam que o mercado global de whey protein pode alcançar US$ 14,3 bilhões até 2030, um salto expressivo em comparação aos US$ 5,33 bilhões de 2021. No Brasil, segundo a Abenutri, os suplementos movimentam R$ 30 bilhões por ano, com mais de 860 empresas atuando no ramo.
Em Barbacena, por exemplo, a Bees-Bee Alimentos LTDA está construindo uma fábrica de 6.000 m² voltada à produção em larga escala de proteína isolada do soro do leite, com capacidade inicial de 800 mil litros diários, podendo chegar a 2 milhões. O investimento é de R$ 70 milhões.
Empresas como a Trevo Lácteos também têm investido pesado. Com R$ 100 milhões aplicados na ampliação da capacidade fabril, a empresa, em parceria com a alemã Ehrmann, lançou linhas de iogurtes e bebidas lácteas proteicas em embalagens UHT e pouches.
\"São produtos que vão ter alto teor proteico, baixo teor de gordura, zero açúcar, mas que vão te dar grande saciedade e matar a vontade de um doce\", destaca Guilherme Gama, CEO da empresa
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A Porto Alegre e a Alvoar Lácteos seguiram o mesmo caminho. A primeira lançou bebidas nos sabores baunilha, chocolate e iogurtes de morango e banana, e prepara para outubro uma versão com sabor café expresso. Já a Alvoar aposta na marca YoBem, com quatro sabores e planos para sobremesas inovadoras. Minas é o quarto maior mercado da empresa, que cresceu 300% desde sua chegada ao Estado.
Outro destaque é a Bold Snacks. Fundada em 2018 em Divinópolis, a marca mineira cresceu 63.000%, focando em alimentos sólidos como barras de cereal e wafer proteicos. Com 30 produtos no portfólio, a empresa investirá R$ 10 milhões em um novo centro de distribuição. O CEO Gabriel Ferreira explica que o objetivo é reequilibrar alimentos industrializados com proteínas de qualidade.
No setor de proteínas vegetais, a Belive aposta em opções voltadas ao público com restrições alimentares. Seu primeiro produto, o Brownie Protein sem glúten e lactose, abriu caminho para novas versões e para o Pão de Mel Protein. Segundo o CEO Samuel Ma, a demanda crescente por opções proteicas além dos suplementos incentivou a inovação com soja e ervilha como base.
As marcas também estão reforçando os benefícios dos alimentos naturalmente ricos em proteína. A Mantiqueira Brasil, por exemplo, aposta na divulgação do valor nutricional dos ovos Jumbo e Extra. Já a Seara lançou um bolinho de carne recheado com ovo, o “bolovo”, que, segundo a empresa, oferece 34g de proteína e pode ser preparado na Air Fryer.
Apesar do entusiasmo, especialistas alertam para o consumo exagerado de ultraprocessados, mesmo os proteicos. A nutróloga Eliana Teixeira adverte sobre o uso excessivo de produtos prontos que, embora práticos, podem conter aditivos e adoçantes.
\"A recomendação é que sejam usados de forma estratégica e eventual, especialmente em situações de conveniência\", orienta Eliana
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Pesquisas da USP e Fiocruz apontam riscos do consumo prolongado de ultraprocessados, relacionando esse hábito ao aumento de até 3% no risco de morte precoce a cada 10% de acréscimo na ingestão desses alimentos.
Marcelle Saldanha, pesquisadora da UFMG, reforça que bebidas proteicas se enquadram como ultraprocessadas por exigirem aditivos que mascaram o sabor residual da proteína. A recomendação dos especialistas é priorizar fontes naturais, como ovos, carnes e leguminosas, distribuindo o consumo de proteína ao longo do dia para otimizar a absorção e a manutenção da massa muscular.
Diante desse cenário, Minas Gerais se posiciona como protagonista na nova era dos alimentos proteicos, atendendo a uma demanda cada vez mais diversificada e exigente, sem perder de vista os desafios e cuidados que a nova tendência exige.