Relatório revela piora na qualidade da água em rios da Mata Atlântica
Estudo aponta aumento de trechos com água ruim ou péssima e estagnação na maioria dos pontos analisados em 14 estados
Por Plox
22/03/2025 11h35 - Atualizado há 27 dias
No Dia Mundial da Água, um retrato preocupante sobre a situação dos rios da Mata Atlântica foi revelado. Uma pesquisa realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica apontou que, ao longo de 2024, 112 corpos d’água distribuídos em 14 estados apresentaram estagnação ou piora na qualidade da água, com destaque para o aumento de pontos com classificação ruim.

A análise foi feita com base em 145 pontos de coleta em 67 municípios do Nordeste ao Sul do Brasil, contando com o apoio de uma rede de voluntários. A maioria dos pontos — 75,2% — foi classificada como regular. Amostras com qualidade boa foram identificadas em apenas 7,6% dos locais, enquanto 13,8% receberam classificação ruim e 3,4% foram consideradas péssimas. Nenhum ponto foi considerado de qualidade ótima.
Essas classificações são baseadas em 16 parâmetros definidos pela Resolução 357/05 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e resultaram na criação do Índice de Qualidade da Água (IQA). De acordo com o IQA, rios classificados como bons ou ótimos têm condições para abastecimento e vida aquática equilibrada. Já os regulares enfrentam impactos ambientais, e os ruins ou péssimos atingem níveis críticos de poluição, afetando a saúde pública e a biodiversidade.
Um exemplo grave é o Rio Pinheiros, em São Paulo, que sofre há mais de 50 anos com ocupação urbana e esgoto lançado diretamente. Nos anos 1960, ainda era possível pescar e navegar no local.
O coordenador do programa Observando os Rios, Gustavo Veronesi, destaca que, mesmo após o marco legal do saneamento de 2020, os investimentos ainda não acompanharam as necessidades. Para ele, soluções tradicionais não serão suficientes para alcançar as metas de universalização até 2033 e defende o uso de alternativas em áreas rurais e isoladas.
Um exemplo prático dessa abordagem está no bairro do Butantã, em São Paulo, onde moradores criaram um sistema alternativo de saneamento para o Córrego da Fonte, utilizando um Tanque de Evapotranspiração (Tevap) que evita a contaminação do parque local. O projeto, com apoio da SOS Mata Atlântica, beneficiou cerca de 30 moradores e devolveu vida ao espaço público.
Cecília Pellegrini, moradora da região, relata que o mau-cheiro desapareceu desde a implantação do sistema, em dezembro, e que o local agora é utilizado por bananeiras, girassóis e outras plantas que ajudam na filtragem natural da água.
O relatório ainda destaca que cerca de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e metade da população não conta com coleta e tratamento de esgoto. Casos pontuais de melhoria foram observados, como no Córrego Trapicheiros (RJ), que passou de regular para bom, e nos rios Sergipe e do Sal (SE), além do Córrego São José, em São Paulo, que deixou a classificação ruim para se tornar regular.
Por outro lado, houve piora significativa em locais como o Rio Capibaribe (PE) e o Rio Capivari (SC), ambos afetados por despejos irregulares de esgoto.
Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, afirma que o Brasil ainda encontra dificuldades para integrar políticas de saneamento, água, clima e meio ambiente. Ela ressalta a importância da mobilização social e participação da população em comitês de bacias hidrográficas para pressionar por mudanças.
Veronesi complementa dizendo que empresas também devem ser cobradas quanto à disposição de resíduos sólidos, outro fator relevante para a poluição dos rios. Ele ainda alerta para o uso de agrotóxicos, cuja fiscalização é rara e só ganha atenção em episódios graves de mortandade de peixes.
Para ele, a recuperação plena dos rios da Mata Atlântica passa pela proteção de nascentes, preservação de matas ciliares e restauração florestal, inclusive em áreas urbanas.