Depoimentos ao STF revelam divergências entre militares sobre reunião com Bolsonaro
Versões contraditórias entre ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica marcam investigações sobre possível tentativa de golpe em 2022
Por Plox
22/05/2025 15h46 - Atualizado há 1 dia
Durante as investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre possíveis tentativas de interferência no processo eleitoral de 2022, depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas expuseram versões conflitantes sobre uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro.

O general Antônio Freire Gomes, que comandava o Exército, e o brigadeiro Carlos Baptista Júnior, ex-chefe da Aeronáutica, relataram à Corte episódios distintos sobre a forma como comunicaram a Bolsonaro sua oposição a medidas que pudessem comprometer o resultado das eleições presidenciais daquele ano.
No depoimento prestado nesta quarta-feira (21), Baptista Júnior afirmou que, em 14 de novembro de 2022, durante um encontro com Bolsonaro, ele e Freire Gomes foram diretos ao dizer que não apoiariam medidas como a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa ou de sítio, com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o brigadeiro, a resposta de Freire Gomes foi contundente:
“Se o senhor fizer isso, terei que te prender”, teria dito o general a Bolsonaro
.
Freire Gomes, no entanto, apresentou uma versão diferente ao STF dois dias antes. Segundo ele, não houve ameaça de prisão, apenas um alerta de que o Exército não apoiaria qualquer tentativa de interferência no processo eleitoral. O general disse ainda que Bolsonaro teria aceitado a posição dos militares.
Durante a mesma reunião, de acordo com o brigadeiro Baptista Júnior, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, apresentou um documento que teria como objetivo discutir formas de impedir a posse do presidente eleito. O ex-comandante da Aeronáutica relatou que se recusou a receber o texto e se retirou da reunião. Ele destacou que, ao ser questionado se o conteúdo previa barrar Lula, Nogueira permaneceu em silêncio, o que interpretou como um consentimento tácito.
Já Freire Gomes confirmou que houve a apresentação de um documento, mas descreveu seu conteúdo como superficial, consistindo apenas em uma exposição informal de possibilidades como a GLO ou estado de defesa. Ele reforçou que não houve qualquer ordem direta de Bolsonaro, apenas a intenção de compartilhar estudos em andamento sobre cenários diversos.
As divergências nos relatos colocam em destaque os bastidores do período pós-eleitoral de 2022 e serão avaliadas pela Justiça no curso das investigações.