Lula aposta em energia gratuita para recuperar popularidade e mirar reeleição
Com medida provisória, presidente quer reduzir conta de luz para famílias de baixa renda e ampliar descontos, em estratégia clássica de redistribuição de renda
Por Plox
22/05/2025 08h40 - Atualizado há 1 dia
Em uma cerimônia marcada pela presença de figuras centrais do Congresso, como os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma medida provisória que pode impactar diretamente a vida de até 100 milhões de brasileiros.

A medida prevê gratuidade na conta de luz para 40 milhões de pessoas de baixa renda e descontos para outros 60 milhões. A proposta também inclui abertura do mercado de energia e uma revisão dos benefícios fiscais concedidos ao setor elétrico. Segundo o governo, as empresas terão até 45 dias para se adequar às novas regras, e o custo estimado da iniciativa será de R$ 3,6 bilhões aos cofres públicos.
As famílias com renda per capita de até meio salário mínimo (atualmente R$ 759) e consumo mensal de até 80 kWh ficarão isentas do pagamento da conta de luz. Já aquelas com renda entre meio e um salário mínimo (até R$ 1.518) e consumo de até 120 kWh por mês terão direito a um desconto de aproximadamente 12%, uma vez que ficarão desobrigadas de arcar com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), parte integrante do valor da fatura.
Essa ação se insere no contexto de uma estratégia já conhecida na história política brasileira, utilizada por líderes como Getúlio Vargas: reforçar a centralidade do Estado como agente da redistribuição de renda. Lula tem enfrentado dificuldades para recuperar sua popularidade, e esse movimento de fortalecimento de políticas sociais busca estreitar novamente o laço direto entre o governo federal e os setores mais pobres da população.
Na véspera do anúncio da MP, Lula participou da Marcha dos Prefeitos em Brasília, onde foi vaiado em três momentos distintos: na chegada, no início e ao fim de seu discurso. Embora também tenha recebido aplausos, as manifestações negativas se destacaram. Em resposta indireta, ironizou o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, por seu discurso crítico.
\"Hoje, o presidente da CNM voltou a ser o velho Paulo Ziulkoski, com um discurso mais inflamado e contundente — como sempre deveria ser um representante dos prefeitos\", disse Lula.
Um dos desafios para Lula reconquistar a base popular é o novo cenário da política brasileira. As entidades civis, que antes eram redutos da esquerda, agora estão em grande parte sob influência de lideranças de direita, especialmente pastores e militantes bolsonaristas. Os sindicatos, que historicamente sustentaram o PT, perderam força com as transformações no mercado de trabalho e com a redução de seu poder de barganha.
A Constituição de 1988 também teve papel fundamental ao descentralizar o poder, fortalecendo os municípios e permitindo uma conexão direta entre União e prefeitos — uma fórmula que ajudou Lula em sua reeleição de 2006 com o Bolsa Família. No entanto, o cenário atual é outro. As emendas impositivas transferiram o controle dos recursos federais aos parlamentares, diminuindo a dependência dos prefeitos em relação ao Executivo e aumentando sua ligação com o Congresso.
Com essa nova MP, Lula busca recuperar parte desse vínculo perdido, usando novamente o poder do Estado como ponte direta entre o Palácio do Planalto e a população mais vulnerável.