Corte histórico retira 855 mil famílias do Bolsa Família em julho

Número de beneficiários atinge menor nível em três anos após reestruturação do Cadastro Único e revisão de rendas

Por Plox

22/07/2025 10h37 - Atualizado há 3 dias

Entre junho e julho de 2025, o programa Bolsa Família registrou a maior redução mensal de sua história, com a saída de 855 mil famílias do quadro de beneficiários. Esse recuo fez com que o número total de atendidos caísse para 19,6 milhões, valor inferior ao registrado no final do governo anterior, que alcançava 21,9 milhões de famílias.


Imagem Foto:  Lyon Santos/MDS


Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, a exclusão em massa está ligada principalmente à atualização de dados no Cadastro Único, intensificada a partir de março com a modernização dos sistemas e cruzamento automático de informações como as do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais). Também foi mencionada a elevação da renda de parte dos beneficiários como causa para o desligamento.



A pasta detalhou que 536 mil das famílias excluídas estavam sob a chamada Regra de Proteção, que permite a manutenção parcial do benefício por até dois anos após um aumento moderado de renda. Como atingiram esse prazo máximo, deixaram de receber os valores. Outras 385 mil famílias ultrapassaram a faixa de meio salário mínimo per capita, o que supera o limite previsto pela mesma regra.



O impacto da medida é notável: o volume de beneficiários não era tão baixo desde julho de 2022, quando o então presidente Jair Bolsonaro havia ampliado os cadastros no período eleitoral, fazendo os gastos mensais do programa saltarem de R$ 3,7 bilhões no início daquele ano para R$ 13 bilhões em dezembro. No atual governo, o pico de despesas foi em junho de 2023, alcançando R$ 15 bilhões mensais, mas desde então há sinais de redução.



Com o orçamento de 2025 limitado a R$ 158,6 bilhões — valor inferior aos R$ 168,2 bilhões empenhados em 2024 —, o governo federal vem restringindo a entrada de novos beneficiários e promovendo uma triagem mais rigorosa. Em abril, havia 473 mil famílias pré-habilitadas aguardando inclusão no programa, mas os dados atualizados sobre novas admissões ainda não foram divulgados.
A fiscalização segue lenta, enquanto a fila por novos auxílios aparenta estar sendo represada, segundo o próprio ministério.

Julho marcou ainda a implementação de novas regras de transição. Cerca de 36 mil famílias que tiveram aumento de renda entre R$ 218 e R$ 706 per capita passaram a integrar a Regra de Proteção, recebendo 50% do valor do benefício por até 12 meses. O novo limite segue diretrizes internacionais de definição de linha de pobreza.


Para casos em que a renda é considerada permanente, como os de aposentadorias e pensões, o auxílio pode ser mantido por até dois meses. Já para famílias com pessoas com deficiência que recebem o BPC, o prazo estendido é de até 12 meses.


A medida, segundo o ministro Wellington Dias, integra um conjunto de ações do governo federal para reestruturação do sistema de proteção social. Ele destacou a criação da estratégia nacional “Brasil Sem Fome”, a retomada de programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o Programa Cisternas, e os avanços do SUAS (Sistema Único de Assistência Social).


Ainda conforme o ministro,
“o Bolsa Família promoveu a saída de 24,4 milhões de pessoas da insegurança alimentar grave apenas em 2023”

. A expectativa da gestão federal é que o Brasil deixe novamente o Mapa da Fome até 2026.

Dados oficiais reforçam a ligação entre recuperação econômica e redução da vulnerabilidade: em 2024, 98,87% dos empregos formais criados foram preenchidos por pessoas inscritas no Cadastro Único, e 75,5% por beneficiários do programa. Além disso, metade da população já está na classe média — incluindo quase 1 milhão de cidadãos registrados no CadÚnico.


Em 2023, os níveis de pobreza e extrema pobreza atingiram os menores índices dos últimos anos: 27,4% e 4,4%, respectivamente, segundo dados do Banco Mundial.



O governo Lula defende que a reavaliação dos cadastros e os cortes têm como objetivo garantir justiça no uso dos recursos públicos e ampliar o alcance do programa para quem realmente precisa.


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