Importadores nos EUA temem impacto de tarifa sobre café brasileiro
Tarifa de 50% imposta por Trump atinge em cheio o café do Brasil e pode elevar preços nos Estados Unidos
Por Plox
22/08/2025 10h41 - Atualizado há 1 dia
Durante muitos anos, os Estados Unidos praticamente não cobravam impostos sobre a importação de café, especialmente o vindo do Brasil. Mas essa realidade mudou radicalmente com a imposição de uma nova tarifa de 50%, anunciada pelo presidente americano, Donald Trump.

Essa medida faz parte de um esforço da administração Trump para reformular o comércio internacional, tornando produtos importados mais caros e favorecendo a indústria local. Porém, no caso do café, a estratégia esbarra em um problema evidente: os EUA não conseguem produzir o suficiente da bebida para atender à demanda interna. A maior parte do café consumido pelos americanos é importada, e o Brasil ocupa um papel central nesse abastecimento.
Peter Longo, dono da tradicional Puerto Rico Importing Company, em Nova York, descreve sua preocupação: \"Isso é uma loucura. As pessoas não vão comprar café por quase US$ 30 a libra. Isso vai matar o mercado americano para o café brasileiro\". Segundo ele, o preço da libra do produto, que atualmente gira em torno de US$ 15,99 (aproximadamente R$ 194 por quilo), pode ultrapassar US$ 24 com a nova taxação.
O impacto não será apenas nos bolsos dos consumidores. Mais de um milhão de empregos nos EUA estão ligados à indústria do café. E como o café é uma fruta tropical cultivada apenas em locais específicos — como Brasil, Colômbia e Vietnã —, a taxação compromete toda a cadeia de fornecimento. Atualmente, os EUA consomem cerca de 450 milhões de xícaras de café por dia, sendo o maior importador e consumidor global da bebida.
Dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) revelam que, só nos sete primeiros meses de 2025, os EUA importaram 3,713 milhões de sacas do produto brasileiro, o que corresponde a 16,8% do total exportado. Márcio Ferreira, presidente da entidade, explica que os impactos ainda não foram totalmente sentidos porque os estoques dos importadores têm validade de 30 a 60 dias. Mas ele alerta:
\"As indústrias americanas estão em compasso de espera, e eventuais prorrogações já começam a surgir, o que é extremamente prejudicial ao setor\"
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A preocupação entre importadores é visível. Longo afirma que está perdendo o sono, tentando planejar o fluxo de caixa de sua empresa frente ao novo cenário. Ainda assim, acredita que o hábito do café matinal é forte o suficiente para sustentar a demanda, mesmo com preços mais altos. \"Eu preciso de três espressos duplos só para conseguir funcionar. Sei que meus clientes também são fiéis ao café. Eles não vão deixar de consumir\", diz.
Nos EUA, dois terços da população adulta consome café diariamente, com média de três xícaras por pessoa. Desde 2020, o consumo aumentou 7%, e o de cafés gourmet subiu 18%. A pressão, porém, cresce não só sobre o consumidor, mas também sobre os exportadores brasileiros que agora correm contra o tempo para tentar incluir o café na lista de exceções à tarifa.
A tarifa entrou em vigor oficialmente em 6 de agosto, e os próximos meses serão decisivos. Caso as negociações com o governo americano não avancem, o setor cafeeiro poderá enfrentar uma retração significativa, com repercussões na economia brasileira e nos hábitos dos consumidores norte-americanos.