Indústrias brasileiras reduzem produção e recorrem a férias coletivas após tarifaço de Trump

Setores de madeira, calçados e armamentos enfrentam crise nas exportações e pedem apoio ao governo para evitar cortes de pessoal

Por Plox

22/08/2025 10h07 - Atualizado há 1 dia

O impacto das sobretaxas impostas pelo governo de Donald Trump já é sentido de forma intensa nas exportações brasileiras. Indústrias de madeira processada, calçados e armamentos registraram forte queda nas vendas e, como resposta imediata, iniciaram férias coletivas para conter os custos operacionais. Sem uma mudança no cenário internacional ou alternativas de novos mercados, as empresas agora pressionam o governo federal para evitar demissões em massa.


Imagem Foto: FREPIK


Entre os segmentos mais atingidos, o setor madeireiro enfrenta estoques parados. A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que reúne fabricantes de pisos, compensados, molduras e pallets, relata que contratos com os Estados Unidos foram suspensos ou cancelados. Com armazéns lotados, algumas empresas já não têm espaço para armazenar produtos. A Millpar, segunda maior do ramo no país, chegou a conceder férias coletivas em sua unidade de Quedas do Iguaçu (PR), mas acabou encerrando a operação local na última terça-feira (19), concentrando a produção em Guarapuava (PR).


“Estamos tomando decisões extremamente difíceis, mas necessárias para manter a sustentabilidade do negócio e preservar parcela significativa dos postos de trabalho”, declarou Ettore Giacomet Basile, presidente da Millpar.


Paulo Pupo, superintendente da Abimci, destacou que as demissões ainda são pontuais, mas que a folga financeira pode durar apenas mais algumas semanas. Situação semelhante é observada em outros setores. A indústria calçadista também colocou profissionais em férias coletivas, enquanto a Polimetal, fornecedora da Taurus em São Leopoldo (RS), afastou 33 dos seus 50 funcionários. A própria Taurus anunciou que parte da produção será transferida para os EUA como forma de reduzir o peso da taxação sobre as armas nacionais.


As medidas, ainda que temporárias, visam reduzir custos imediatos e ganhar tempo para negociações. O uso de banco de horas, antecipação de feriados e acordos com sindicatos aparecem como alternativas antes de decisões mais drásticas. Já programas de demissão voluntária (PDV) começam a ser avaliados como opção para mitigar custos trabalhistas e evitar ações judiciais.



A pressão agora recai sobre o governo. Representantes dos setores atingidos elogiaram o plano emergencial apresentado recentemente, mas pedem ações mais robustas. O pacote prevê R$ 30 bilhões em crédito para exportadores e alguns benefícios tributários, com a condição de que os empregos sejam preservados. No entanto, muitos detalhes ainda não foram regulamentados.


“Na pandemia, os funcionários ficaram em casa e receberam auxílio do governo. Os sindicatos não têm condições de arcar com essa estrutura”, explicou Giovanni Cesar, advogado e professor de direito do trabalho.


A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) também protocolou propostas junto ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. O documento defende a redução proporcional de jornada e salários, além da suspensão temporária dos contratos por até 90 dias, com suporte financeiro da União para os trabalhadores.


“Estamos trabalhando para a criação de medidas de proteção similares às que tivemos durante a pandemia, para mitigar os efeitos desse adicional de tarifa até o problema ser resolvido”, afirmou Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados.


Enquanto a crise avança, a expectativa é de que, sem medidas governamentais mais rápidas ou a abertura de novos mercados internacionais, a próxima etapa será inevitavelmente a demissão em massa, trazendo ainda mais incertezas para os trabalhadores e para a indústria brasileira.


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