Crescimento do individualismo reduz capacidade de empatia

Para psicóloga, excesso de informação leva à aceitação do chocante como norma

Por Plox

23/05/2024 08h19 - Atualizado há 2 meses

A série "Betinho: No Fio da Navalha", disponível na Globoplay, destaca a trajetória do sociólogo Herbert de Souza, conhecido como Betinho, que dedicou sua vida à luta contra a fome e a desigualdade social no Brasil. No entanto, a mensagem de Betinho sobre a importância da indignação frente à dor alheia parece ter perdido força nos dias atuais.

Imagem: PIxabay

A naturalização da desigualdade

Na série, uma cena marcante mostra Betinho confrontado com a realidade das pessoas em situação de rua, refletindo sobre como a sociedade perdeu a capacidade de se indignar com a miséria. A psicóloga Carol Pinheiro compartilha dessa visão, afirmando que "a desigualdade social é um comportamento normalizado que deveria nos chocar. Essa desigualdade foi aumentando ao longo do tempo, mas nem sempre foi assim…". Para ela, o individualismo crescente está na raiz desse problema, fazendo com que as pessoas aceitem o absurdo como norma.

A indiferença coletiva

A psicóloga aponta que o modelo capitalista contribui para a difusão do individualismo, incentivando a acumulação de bens e ignorando o bem-estar coletivo. "O mundo do capitalismo nos leva a só querer ter, acumular, conquistar, ignorando por completo tudo que acontece à nossa volta, com os outros, sempre olhando para o nosso mundinho, nosso próprio umbigo, com um individualismo crescente, que afasta as pessoas de todas as questões coletivas", explica Carol.

Redes sociais e a banalização do absurdo

As redes sociais desempenham um papel crucial na normalização do absurdo, segundo Carol. A abundância de informação faz com que os usuários se tornem espectadores passivos de situações chocantes, sem se envolver emocionalmente. "Com as redes sociais, vivemos também a normalização do excesso de informação. A gente vai mudando de uma coisa chocante para a outra sem se envolver de verdade, apenas como espectadores passivos que não têm nada a ver com aquilo, o que leva, consequentemente, à banalização de tudo, inclusive do que deveria nos chocar", conclui a psicóloga.

Conscientização e solidariedade

Carol Pinheiro acredita que a chave para reverter essa tendência está na educação e na conscientização sobre nosso papel no mundo. Ela defende que "quando a gente se conscientiza de que eu e o outro somos um, e que eu tenho, sim, responsabilidade, pois tudo que eu faço na minha vida, todos os meus comportamentos estão interligados ao todo do qual eu faço parte, é possível manter a sensibilidade e não naturalizar o que é chocante".

A psicóloga também enfatiza a importância da solidariedade contínua e ampla, que ela define como "compreensão do nosso lugar no mundo". Para ela, é fundamental reconhecer que, enquanto houver sofrimento, todos estão de alguma forma impactados, reforçando a necessidade de compaixão e apoio mútuo.

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