Morre Evanildo Bechara, referência da língua portuguesa e imortal da ABL

O Brasil perdeu nesta quinta-feira (22) uma das maiores autoridades da língua portuguesa. Evanildo Cavalcante Bechara, professor, filólogo e gramático, morreu aos 97 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. Internado no Hospital Placi, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, ele deixa um legado robusto e reconhecido internacionalmente no campo da linguística e do ensino da língua portuguesa.

Foto:  Edilson Rodrigues/Agência Senado

A cerimônia de despedida ocorrerá nesta sexta-feira (23), a partir das 11h, no Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição da qual era membro desde maio de 2001, ocupando a cadeira de número 33.

Natural do Recife, Bechara nasceu em 26 de fevereiro de 1928. Iniciou sua trajetória acadêmica cursando Letras, com especialização em Neolatinas, no então Instituto La-Fayette, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Formou-se como bacharel em 1948 e licenciado no ano seguinte.

A carreira acadêmica de Bechara foi marcada por cargos de destaque. Atuou como professor titular e emérito na UERJ e também na Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi ainda diretor-geral do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (Iserj) e ocupava a cadeira 16 da Academia Brasileira de Filologia. Seu reconhecimento ultrapassou as fronteiras nacionais: tornou-se membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Galega da Língua Portuguesa, além de receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra.

Com um vasto currículo editorial, Bechara editou a revista Littera, voltada para professores de português e literatura, entre os anos de 1971 e 1976. Também foi responsável pela revista Confluência, publicada pelo Liceu Literário Português. Entre suas obras mais influentes, destaca-se a “Moderna Gramática Portuguesa”, referência adotada em escolas e universidades. Além dela, escreveu títulos como “Gramática Escolar da Língua Portuguesa” e “Lições de Português pela Análise Sintática”. Ao todo, é autor de cerca de 20 livros.

Sua contribuição ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa também é notável. Em 1972, liderou uma equipe de estudantes da PUC-RJ no levantamento do corpus lexical da obra, sob a supervisão do renomado Antônio Houaiss. Em 2008, ao completar 80 anos, foi homenageado com publicações como “Entrelaços entre textos”, organizada pelo professor Ricardo Cavaliere, e “80 anos Homenagem: Evanildo Bechara”, que reuniu depoimentos de colegas, discípulos e admiradores.

"Bechara deixa um legado que transcende a gramática: é símbolo do compromisso com a educação e o amor pela língua\