Presidente do Banco Central não foi avisado sobre aumento do IOF
Gabriel Galípolo já havia se manifestado contra a mudança e foi surpreendido com anúncio do Ministério da Fazenda
Por Plox
23/05/2025 10h27 - Atualizado há cerca de 21 horas
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi surpreendido pelo anúncio feito nesta quinta-feira (22) sobre alterações na tributação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), promovidas pelo Ministério da Fazenda. Pessoas próximas ao tema confirmaram que Galípolo não foi informado da medida previamente e que mantém posição contrária à mudança.

Segundo interlocutores ouvidos pela reportagem, Galípolo já havia expressado veementemente sua discordância em ocasiões anteriores, durante discussões dentro da equipe econômica. O IOF, apesar de ser um tributo regulatório cuja gestão está nas mãos do Poder Executivo, pode ser modificado via decreto, sem necessidade de aprovação no Congresso.
Na coletiva de imprensa que apresentou o congelamento de R$ 31,3 bilhões no Orçamento, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, argumentou que a alteração do IOF contribuiria com o trabalho do Banco Central. Ele afirmou que a medida poderia auxiliar no processo de desaceleração do crédito, favorecendo a convergência da inflação para a meta de 3% e, consequentemente, a queda das taxas de juros.
Contudo, mais tarde, o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contradisse os auxiliares. Por meio de uma publicação no X (antigo Twitter), afirmou que “nenhuma das medidas fiscais anunciadas foi negociada com o BC”. Apesar de ter participado da coletiva, Haddad se retirou antes da parte em que o aumento do IOF foi discutido publicamente.
Durante a entrevista à Folha de S.Paulo, o secretário-executivo Dario Durigan afirmou que houve uma conversa entre Haddad e Galípolo na última terça-feira (20), mas não especificou se o tema do IOF foi abordado diretamente na ocasião.
A reação do mercado refletiu a incerteza gerada pelos anúncios. O dólar, que havia iniciado o dia em queda, subiu 0,35%, fechando cotado a R$ 5,660. A Bolsa de Valores também foi impactada negativamente, encerrando o pregão com retração de 0,44%, aos 137.272 pontos.
O cenário contrastou com o movimento registrado no início da semana, quando uma fala de Galípolo na segunda-feira (19) contribuiu para a queda nas taxas de juros longas — algo que não ocorria havia meses. Na ocasião, o presidente do BC declarou que a autoridade monetária considera manter a Selic, atualmente em 14,75% ao ano, elevada por um período mais prolongado. Ele enfatizou, no entanto, que novas decisões dependerão da evolução da atividade econômica e da inflação.
A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que Galípolo presidirá, está marcada para a próxima terça-feira. O encontro deve ganhar ainda mais atenção diante da recente divergência entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda.