Poluição no Distrito Industrial afeta vida dos moradores em Timóteo

"Pó preto, fumaça branca e mau cheiro"

Por Layara Andrade

23/06/2021 13h13 - Atualizado há quase 3 anos

“Até quando?”. Essa é a pergunta dos moradores do setor 7, em Timóteo, Minas Gerais, que sofrem constantemente com a poluição causada pelas indústrias do Distrito Industrial. A solução desse questionamento é um antigo anseio da comunidade. 

Os bairros Limoeiro, Recanto Verde e Alphaville são os mais atingidos do setor. Os moradores reclamam que as indústrias liberam uma fumaça clara, parecida com uma espécie de neblina, do odor e de uma poeira preta que chega nas casas todos os dias. 

A moradora do bairro Recanto Verde, Ana Laura Lares, conta que seu filho de um ano e dois meses tem bronquite e sofre muito com a poluição. “Por diversas vezes que estávamos em casa, precisei fechar as janelas, pois o cheiro incomodava e trazia falta de ar para ele”.

Segundo a jovem, ela também tem bronquite e já chegou a passar mal de madrugada com falta de ar por causa do odor que é liberado pelas indústrias. “É algo absurdo, que se vê a olho nu e ninguém faz nada a respeito. As pessoas estão adoecendo, mudando de bairro porque não aguentam mais esse cheiro”, declara. 

A jornalista Layane Óliver, que também mora no Recanto Verde, já fez diversos registros de momentos em que a fumaça branca tomou conta do céu. Ela relata que também tem um filho pequeno e a situação é muito complicada. “Na época do inverno, a fumaça fica mais próxima da gente, na camada mais baixa da atmosfera. É horrível”. 

Foto: Layane Óliver

 

“Desde 2013, procuro as autoridades, publicamos na imprensa, e até hoje nada foi feito. O cheiro ruim vem todos os dias com a fumaça branca, é como se fosse o mesmo cheiro de amônia, algo estranho”, declara. 

As reclamações são unânimes. O morador do bairro Limoeiro, Adolfo Lares, fala sobre a situação no local: “há muita poluição, em especial na parte da noite, pó preto e cheiro de amônia. Minha avó reclama de prejudicar ainda mais a respiração dela, por ser asmática. A nossa funcionária doméstica frequentemente tem que lavar a parte do quintal que não é coberta. Minha avó reclama também de resíduos oleosos que sujam o chão de sua varanda”.

Foto: Layane Óliver

 

Para a moradora do bairro Alphaville, Fernanda Rodrigues, a situação é um desrespeito com a população do setor. “Eu passo ali todos os dias de noite e, na maioria das vezes, tem uma fumaça branca e sebosa”, disse. A jovem conta ainda que, por conta da poluição, adquiriu uma rinite alérgica. Fernanda ressalta sobre as promessas feitas por gestores ao longo dos anos e da falta de solução para amenizar o problema; “me entristece esse descaso”.

Fabiano Ferreirah, morador do bairro Macuco há 20 anos e, atualmente, vereador do município, relata as reclamações da população. “Os principais questionamentos dos moradores e de quem passa pelo local é o excesso de poluição no entorno do Distrito Industrial, em especial à noite. Há frequentemente uma nuvem de fumaça lançada pelas empresas que ardem os olhos, que causa um mau cheiro de amônia, provocando nos moradores gripe, irritabilidade e grande desconforto respiratório”, ressalta. 

“Isso é o impacto visível na saúde, porém há temores de males maiores que não são diagnosticados tão rapidamente e visivelmente, como câncer e outras doenças”, declarou o vereador. 

 A moradora do bairro Recanto Verde, Valéria Correia, disse que a limpeza da casa também é um problema, porque o pó preto é constante. “Há alguns anos lutamos com isso, tornou-se um lugar difícil para passar um tempo na varanda, por exemplo, sempre tem poeira. A minha mesa que fica do lado de fora, se eu limpo de manhã, de tarde já está suja”, conta. 

Foto: enviada ao Plox por moradores

 

“Quando a gente tá vindo do centro, chegando no Limoeiro, você olha pro céu e vê uma neblina, mas é poluição e a gente vive nesse clima pesado. Não sabemos nem qual o mal que isso pode causar. Problemas respiratórios toda a família sempre tem”, disse Valéria. 

Valéria conta ainda que já viu promessas para solucionar a questão, mas tudo permaneceu igual. “Há alguns anos participei de uma audiência pública, onde diversas reclamações foram feitas e, naquele momento, pensei que fosse surgir alguma solução, mas até hoje nada. Ninguém faz nada e não vemos nada mudando. Até quando vamos conviver com isso?”, lamenta.

Também do bairro Recanto Verde, Antônio Marcos, reclama, inclusive, da sujeira das vias. “Poluição com muitos particulados no ar, mau cheiro de produtos químicos industriais. Além da sujeira das vias próximas ao distrito em estado crítico, má conservação, muitos buracos e remendos mal feitos”, enfatiza. 

Investigação

Um inquérito civil promovido pela 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Timóteo foi tema de uma reunião entre a promotoria; representantes do Legislativo; o presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente, Renato Brandão; representantes da Polícia Militar do Meio Ambiente; da secretaria municipal do Meio Ambiente; representante dos moradores do distrito e dos empresários, na última quinta-feira (17). 

No encontro, foi apresentada a proposta do Ministério Público sobre a necessidade de um estudo para identificar a fonte poluidora e monitorar e controlar a emissão dos poluentes, visando melhorar a qualidade do ar naquele local. A proposta do MP também visa ratear entre os empresários os seus custos, que foram identificados como dificuldade e atraso da questão. 

Distrito Industrial/Foto: Google Street View

 

De acordo com o MP, durante fiscalizações “foram constatadas algumas infrações pontuais que foram tratadas, porém, chegou-se a conclusão que é necessário qualificar esse controle de forma sistematizada e mais abrangente, para apurar a situação do distrito de forma geral e ainda obter maneiras específicas e técnicas para o diagnóstico mais fidedigno”. 

“Temos recebido denúncias sobre a poluição atmosférica e então fomos para a identificação de quem são essas empresas e da situação vivida pelos moradores. Das demandas que chegaram para o Estado, percebe-se que a situação é crítica e precisamos traçar diretrizes para ações das empresas e dos órgãos para monitoramento”, declarou o presidente da Feam, Renato Brandão. 

Na reunião, José Mendes Filho, representante dos empreendedores, afirmou que a categoria está aberta a colaborar para uma solução. “A gente adotou uma política de desenvolvimento de um sistema para melhorar isso. Vamos chamar a Feam, a secretária de Meio Ambiente para fazer a contenção do gás, que é um dos produtos prejudiciais à saúde. Eu também quero ir pra minha empresa com tranquilidade, pois fiz cirurgia cardíaca e sei bem dos males da poluição. Recebo todos lá para trocarmos informações, experiências e ajudar nisso”, disse. 

Encaminhamentos 

Ficou acertado, na reunião extrajudicial, entre o Ministério e os empresários, que esses têm o prazo de 20 dias para analisar a proposta. De acordo com o MP, a adesão voluntária dos empresários é necessária para evitar litígio na Justiça.


 

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