Investigação revela uso de posto de gasolina para lavagem de dinheiro em São Paulo

desembargador e advogados são acusados de vender sentenças judiciais

Por Plox

23/06/2024 14h42 - Atualizado há cerca de 1 ano

Um posto de combustível localizado na rua Conselheiro Furtado, no bairro da Liberdade, centro de São Paulo, foi utilizado para lavar dinheiro obtido com a venda de decisões judiciais. A investigação da Polícia Federal aponta que o desembargador Ivo de Almeida, da 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, e dois advogados estão envolvidos no esquema. O posto está a apenas 300 metros do gabinete do desembargador.

Foto: Divulgação/TJSP

Operação churrascada atinge desembargador e advogados

A "Operação Churrascada", realizada pela Polícia Federal na última quinta-feira (20), teve como alvos o desembargador Ivo de Almeida, dois advogados de Ribeirão Preto e mais quatro pessoas de diferentes áreas. Ivo é suspeito de vender sentenças judiciais em processos sob sua relatoria e durante seus plantões judiciais. Além disso, há indícios de que ele exigia parte dos salários de seus funcionários.

Na sexta-feira (21), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decretou a prisão preventiva do bacharel em direito Wellington Pires, acusado de participar do esquema. Wellington prestava serviços informais ao advogado Luiz Pires Moraes Neto, auxiliando nas negociações com representantes do desembargador.

Defesa e investigação

A defesa do desembargador Ivo de Almeida informou ao g1 que ainda não teve acesso aos autos que embasaram as medidas cautelares deferidas pelo STJ. "Aguarda-se a autorização ao total conteúdo das investigações para que a defesa possa se manifestar e, em consequência, restabelecer no caso a verdade e a justiça", afirmou o advogado Alamiro Velludo Salvador Netto.

O advogado Luiz Pires Moraes também aguarda acesso aos autos para se manifestar. A defesa de Wellington Pires não respondeu aos contatos.

Uso de posto de combustível para lavagem de dinheiro

A Polícia Federal identificou que o posto de combustível, localizado próximo ao gabinete de Ivo, foi utilizado para realizar transações financeiras ilícitas relacionadas à compra de sentenças. Em 2017, o posto recebeu um montante de R$ 100 mil. Os sócios do posto são os mesmos apontados como responsáveis por negociar os valores de propina em nome do desembargador.

Afastamento e implicações disciplinares

Após a operação, o STJ afastou o desembargador por um ano. A Corregedoria Nacional de Justiça instaurou uma Reclamação Disciplinar contra ele. O corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, afirmou que a conduta do desembargador pode ser contrária aos deveres de independência, prudência, imparcialidade e integridade, justificando a abertura de um processo.

O Tribunal de Justiça de São Paulo deve fornecer informações sobre eventuais pedidos de providências e processos administrativos envolvendo o desembargador em até 10 dias.

Histórico do desembargador Ivo de Almeida

Ivo de Almeida, de 66 anos, formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), iniciou sua carreira como juiz substituto em Bauru em 1987. Foi juiz corregedor dos presídios e testemunha no julgamento do 'Massacre do Carandiru'. Em 2013, tomou posse como desembargador do TJ-SP, onde reafirmou seu compromisso de servir à Justiça paulista com dedicação e lealdade.

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