Braga Netto e Mauro Cid se enfrentam em acareação sigilosa no STF
Sessões visam esclarecer contradições sobre trama golpista; Anderson Torres e Freire Gomes também serão confrontados
Por Plox
23/06/2025 17h07 - Atualizado há 18 dias
Pela primeira vez desde os atos extremistas que abalaram Brasília em 8 de janeiro de 2023, figuras centrais da investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado se encontrarão pessoalmente no Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesta terça-feira (24), o ministro Alexandre de Moraes convocou duas acareações a portas fechadas. Esses encontros, sem cobertura da imprensa e sem transmissão ao público, reunirão os envolvidos e seus advogados sob a condução direta do magistrado, que buscará esclarecer versões conflitantes apresentadas durante as investigações.
Na primeira sessão, o general da reserva Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid ficarão frente a frente. Cid, que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e se tornou delator, sustenta que uma reunião realizada em novembro de 2022, na casa de Braga Netto, teve como foco o plano chamado “Punhal Verde e Amarelo”, supostamente voltado a contestar o resultado eleitoral e discutir o papel das Forças Armadas. Ele afirma ainda que, ao final da reunião, foi dispensado sob o argumento de que seriam discutidas “medidas operacionais”, o que, por sua função oficial, ele não poderia acompanhar. A defesa de Braga Netto nega qualquer teor conspiratório no encontro.
Outro ponto de discórdia gira em torno de um suposto repasse de dinheiro. Cid declarou à Polícia Federal que Braga Netto lhe entregou uma quantia em espécie, acondicionada em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada, para financiar acampamentos antidemocráticos. Segundo ele, os recursos foram repassados a um intermediário identificado como “kid preto”. O general refuta veementemente essa versão, classificando o episódio como inexistente.
Na segunda acareação, os protagonistas serão o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército. Embora Freire participe como testemunha e Torres como réu, os dois se desencontram quanto a uma suposta reunião com Bolsonaro e outros comandantes militares para tratar de ações golpistas. Os advogados de Torres alegam que Freire Gomes deu declarações contraditórias e imprecisas, sem mencionar data, local ou nomes dos participantes, limitando-se a dizer que “lembra” da presença do ex-ministro.
\"O general afirmou apenas recordar da presença de Torres, sem apresentar detalhes concretos\" — apontou a defesa do ex-ministro.
As acareações são empregadas no processo penal quando existem divergências marcantes entre depoimentos, com o objetivo de confrontar os envolvidos diretamente para esclarecer os pontos de desacordo.
Essas sessões ocorrem em meio a novos desdobramentos na investigação conduzida pela Polícia Federal, que agora apura também tentativas de manipular o conteúdo da delação de Mauro Cid. Como parte dessa etapa, Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro, foi preso preventivamente sob suspeita de obstrução de justiça.