Coca-Cola nos EUA muda receita e adota açúcar da cana

Nova versão da bebida deixa o xarope de milho de lado, mas nutricionistas alertam que mudança não traz benefício à saúde

Por Plox

23/07/2025 09h32 - Atualizado há 10 dias

A Coca-Cola nos Estados Unidos vai passar por uma mudança significativa em sua composição: a empresa anunciou que lançará uma versão da bebida adoçada com açúcar da cana-de-açúcar. A decisão veio após uma pressão direta do secretário de Saúde norte-americano, Robert F. Kennedy Jr., que tem se manifestado contra o uso de ingredientes como xarope de milho, óleos de sementes e corantes artificiais nos alimentos industrializados.


Imagem Foto:shutterstock


A substituição do adoçante usado na fórmula tradicional nos EUA – o xarope de milho rico em frutose – pela sacarose da cana-de-açúcar já é comum em países como Brasil, México, Reino Unido e Austrália. Apesar da novidade ser vista por alguns como um retorno a ingredientes mais naturais, nutricionistas afirmam que, do ponto de vista da saúde, a alteração não traz vantagens.


O anúncio foi feito após o ex-presidente Donald Trump também ter pressionado a empresa. Ele alegou que a substituição era uma escolha \"simplesmente melhor\". No entanto, nem Trump nem Kennedy apresentaram argumentos científicos concretos para justificar a mudança.



Segundo especialistas da área de nutrição, o excesso de qualquer tipo de açúcar simples – seja frutose ou sacarose – pode causar diversos problemas de saúde, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, acúmulo de gordura no fígado e alterações no metabolismo cerebral.


A nutricionista Isabela Gouveia, mestre em Ciências de Alimentos pela USP, esclarece que a frutose, presente em grandes quantidades no xarope de milho, é metabolizada no fígado e pode, quando consumida em excesso, favorecer o acúmulo de gordura nesse órgão.


Ela faz uma ressalva importante:
“O problema não está na frutose presente nas frutas, mas sim na frutose concentrada e ultraprocessada, que está em refrigerantes, balas e produtos industrializados”


Lívia, também nutricionista, lembra que mesmo os chamados açúcares naturais, como o mel ou o açúcar mascavo, embora contenham pequenas quantidades de minerais e antioxidantes, não são alternativas mais saudáveis em termos de impacto nutricional. E o mesmo raciocínio vale para os refrigerantes diet, que, apesar de não conterem açúcar e oferecerem vantagem calórica, ainda são vistos com ressalvas pela comunidade científica devido a possíveis impactos dos adoçantes artificiais no apetite, metabolismo e na microbiota intestinal.



Para os especialistas, a mudança promovida pela Coca-Cola atende a uma demanda mais política e comercial do que nutricional. A substituição pode até significar aumento na demanda por importação de açúcar, incluindo do Brasil, mas não muda o fato de que refrigerantes continuam sendo produtos com alto teor de açúcar – independentemente da origem desse adoçante.



O movimento liderado por Kennedy, chamado Make America Healthy Again (“Torne a América saudável novamente”), deve continuar pressionando empresas alimentícias, e há expectativa de atualização nas diretrizes alimentares do país. Mesmo assim, especialistas recomendam cautela ao interpretar esse tipo de iniciativa como avanço real para a saúde pública.


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