Sete em Dez Mulheres com Câncer São Abandonadas: Os Relatos Por Trás dos Números

Sete em cada dez mulheres que enfrentam o câncer no Brasil experienciam o abandono por parte de seus parceiros no período do tratamento. Esse dado alarmante provém de uma pesquisa conduzida pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), divulgada em abril deste ano. A pesquisa evidencia um preocupante panorama, onde o momento mais vulnerável e desafiador na vida dessas mulheres é agravado pela falta de suporte emocional.

Dra. Meira Souza, médica anestesiologista especializada em tratamento de dor e construção de saúde, testemunha esse fenômeno em sua rotina profissional. Ela compartilha que, com frequência, ouve relatos de pacientes que foram traídas ou abandonadas por seus parceiros durante o tratamento. Um dos casos relatados por Dra. Meira é de uma paciente que, após comunicar ao parceiro de 12 anos sobre o diagnóstico de câncer de mama e a necessidade de uma mastectomia, encontrou-se trancada fora de sua própria casa. As palavras do parceiro, afirmando que não conviveria com uma “mulher aleijada”, é apenas uma entre as muitas histórias de abandono retratadas no podcast “Quem me leva”, da Mais Conteúdo.

O Desafio do Tratamento e a Importância do Suporte Emocional Para muitas dessas mulheres, a dor da separação se soma a outras perdas: estéticas, de produtividade e até mesmo perdas de natureza sexual. Gizelle Mesquita, psicóloga do Hospital Mário Penna, enfatiza a importância do apoio emocional no processo de recuperação. Segundo Mesquita, a experiência oncológica vai além do tratamento físico, como a quimioterapia. Engloba, também, todo o universo psicossocial da paciente. A fragilidade emocional, acentuada pelo abandono, pode impactar negativamente a imunidade e, consequentemente, a resposta ao tratamento.

Aprofundamento no Tema O podcast “Quem me leva” decidiu aprofundar-se nesse tema em sua segunda temporada, após perceber, durante a produção da primeira temporada, a quantidade de relatos sobre o abandono no contexto oncológico. A primeira temporada focava nas dificuldades enfrentadas pelas pacientes para ter acesso ao transporte gratuito para o tratamento, mas o volume de histórias de abandono foi tão expressivo que deu origem a uma temporada dedicada ao tema.