Economista de Harvard critica tarifaço de Trump e alerta para riscos à própria economia americana

Dani Rodrik afirma que sobretaxas não garantem inovação, empregos de qualidade nem melhores salários nos EUA

Por Plox

23/08/2025 10h28 - Atualizado há cerca de 10 horas

Durante o seminário Globalização, Desenvolvimento e Democracia, realizado na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, o economista Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard, fez duras críticas às políticas comerciais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo ele, as sobretaxas sobre produtos importados, conhecidas como 'tarifaço', são ineficazes até para os próprios americanos, pois não estimulam a inovação nem garantem empregos de qualidade e bons salários.


Imagem Foto: Reprodução vídeo


Rodrik destacou que, embora a medida possa aumentar a arrecadação ou os lucros de determinados setores da manufatura, isso não significa, necessariamente, mais investimentos, contratações ou valorização dos trabalhadores.
“As tarifas apenas aumentam a lucratividade de certos segmentos da manufatura. Mas isso não implica, automaticamente, em mais inovação, investimento ou geração de empregos bem remunerados”, disse.

O economista lembrou que tarifas podem ter papel complementar em estratégias de crescimento, mas devem ser temporárias e acompanhadas de políticas internas consistentes. Para exemplificar, citou a China como um país que utiliza medidas planejadas de forma eficaz para impulsionar seu próprio crescimento econômico.



Entre as justificativas de Trump para a política de sobretaxas estavam a reconstrução da indústria americana e o fortalecimento da classe média, objetivos que, na avaliação de Rodrik, não serão atingidos. “O problema com a América de Trump não é o nacionalismo econômico, mas o fato de que suas políticas não são nacionalistas o suficiente, tampouco servem ao interesse econômico americano”, afirmou.


O impacto da medida também atingiu o Brasil. Desde 6 de agosto, parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos sofre sobretaxa de 50%, afetando 35,9% das mercadorias enviadas, o equivalente a 4% do total das vendas externas do país. Cerca de 700 produtos foram incluídos em uma lista de exceções. Para reduzir os prejuízos, o governo lançou o Plano Brasil Soberano em 13 de agosto.



Além de Rodrik, Alex Soros, presidente do Conselho da Open Society, criticou o governo americano pelo fechamento da Usaid, agência que financiava programas de ajuda internacional. Segundo ele, cortes nas ações humanitárias já resultaram em mortes ao redor do mundo.
“Falando como um americano, isso não é um interesse americano”, declarou.

Durante o evento, a Open Society Foundations anunciou investimentos voltados à América Latina, com foco em populações historicamente marginalizadas, como indígenas, afrodescendentes e mulheres, especialmente em Brasil, Colômbia e México. A proposta é apoiar a sociedade civil e governos locais ao longo de oito anos para promover saúde, empregos de qualidade, segurança e preservação ambiental.



Para a diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, os cortes promovidos pelos Estados Unidos atingem sobretudo países pobres. “Nós não temos como enfrentar as desigualdades no mundo de forma isolada, muito menos os países em desenvolvimento. É fundamental que atores comprometidos com a democracia não se limitem à agenda econômica, mas avaliem o que está em risco de fato”, concluiu.



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