Educadores apoiam possível restrição ao uso de celulares nas escolas

A medida busca diminuir impactos no aprendizado e saúde mental de estudantes e professores

Por Plox

23/09/2024 15h29 - Atualizado há 28 dias

Educadores e especialistas em orientação educacional enxergam com bons olhos a possibilidade de o Ministério da Educação (MEC) implementar medidas para proibir o uso de celulares em escolas públicas e privadas do Brasil. Essa proposta, que pode ser apresentada em outubro, surge como uma resposta aos danos que o uso exagerado de telas vem causando em crianças e adolescentes, afetando tanto o aprendizado quanto a saúde mental de alunos e professores.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A ideia foi defendida recentemente pelo ministro da Educação, Camilo Santana, durante entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Ele destacou que pesquisas apontam como o uso excessivo de dispositivos móveis compromete o desempenho escolar e prejudica a saúde mental dos docentes.

Pandemia acelerou problema com telas

Marina Rampazzo, orientadora educacional da Secretaria de Educação do Distrito Federal, lembra que a preocupação com o uso excessivo de telas já existia antes da pandemia, mas se intensificou com o isolamento social. “A pandemia deu um poder a mais para a tela. O problema já existia, mas havia um controle maior sobre tempo, espaço e conteúdo. Quando ficamos trancados em casa, as famílias não tinham outras ferramentas para entreter os jovens", afirmou Rampazzo em entrevista à Agência Brasil.

Ela destaca que será um grande desafio reverter esse quadro, mas a escola desempenha um papel crucial. “A socialização é a forma mais eficiente de afastar os estudantes das telas, e a escola, como um ambiente de convivência e aprendizado, é o lugar ideal para isso”, explica Marina.

Comportamentos antissociais e efeitos no desenvolvimento

Margareth Nogueira, orientadora educacional do Colégio Arvense, reforça que o uso exagerado de telas nas escolas tem aumentado o comportamento antissocial e o bullying entre os estudantes. “Entre os 10 e 12 anos, é crucial que os alunos desenvolvam o diálogo, refletindo e criando argumentos consistentes. Contudo, vemos que a capacidade de escutar o outro está se tornando cada vez mais difícil. Eles precisam de diálogo, interatividade e troca de opiniões”, destacou.

Além disso, o uso contínuo de celulares tem prejudicado a saúde física dos alunos, especialmente a visão. “Estudantes estão usando óculos cada vez mais cedo por conta do excesso de tempo em frente às telas”, completou Margareth.

O vício tecnológico entre jovens

O vício em dispositivos móveis é outra preocupação recorrente entre os educadores. Segundo Marina Rampazzo, muitos alunos têm manifestado comportamentos semelhantes a crises de abstinência quando são afastados de seus celulares. "Eles ficam mais agressivos, impacientes e intolerantes. Casos de crianças quebrando objetos em casa por não poderem usar o celular estão cada vez mais frequentes", relatou a psicóloga.

Margareth Nogueira também observa que o vício tecnológico tem deixado os estudantes mais agitados e agressivos. "A competitividade entre eles aumentou, alimentada pelos jogos online. Isso afeta diretamente a alimentação, a rotina e o sono, impactando o funcionamento cerebral", afirmou.

Possíveis soluções e suporte às novas regras

Caso a proibição do uso de celulares nas escolas seja implementada, é essencial que as instituições ofereçam alternativas que utilizem a internet de maneira controlada, como o uso de computadores fornecidos pela escola. Margareth defende que o acesso à tecnologia seja supervisionado. “Sabemos como é difícil controlar o uso de celulares pelos estudantes. A supervisão precisa ser feita de forma adequada”, alertou.

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