Golpes digitais avançam com clonagem de rostos e vozes via IA

Com o avanço das tecnologias de inteligência artificial, criminosos estão utilizando softwares para clonar rostos e vozes, aplicando golpes cada vez mais elaborados. Um dos casos mais assustadores envolve Hanna Gomes, advogada criminalista, que teve sua imagem e voz clonadas para uma tentativa de fraude financeira via chamada de vídeo.

A ameaça crescente da IA no crime digital

A tecnologia usada para criar deepfakes está mais acessível do que nunca. Com apenas alguns segundos de áudio ou vídeo de uma pessoa, criminosos podem recriar a imagem e voz, simulando interações realistas. Essa técnica foi usada em uma tentativa de golpe contra a advogada aposentada Karla Pinto, mãe de Hanna Gomes, que recebeu uma chamada de vídeo com a imagem de sua filha pedindo uma transferência de R$ 600. Apesar da semelhança impressionante, Karla desconfiou por pequenos detalhes, como a roupa diferente e o uso de uma nova conta para o pagamento. Além disso, a filha não utilizou o apelido carinhoso que costumam usar, o que a levou a testar a autenticidade da chamada com perguntas pessoais. Quando as respostas não vieram, a chamada foi desligada, revelando o golpe.

Criação de deepfakes: uma prática perigosa em expansão

Hanna acredita que seus vídeos de aulas online e nas redes sociais foram usados para alimentar a inteligência artificial, criando uma versão falsa dela. Esses softwares, que sincronizam voz e movimentos faciais, estão sendo cada vez mais usados para estelionatos, especialmente nas chamadas de vídeo em tempo real, que exigem maior sofisticação tecnológica. Segundo o especialista em tecnologia Arthur Igreja, "não é necessário ser um especialista para produzir essas clonagens digitais; basta ter curiosidade e seguir tutoriais disponíveis online".

Estatísticas preocupantes de estelionatos eletrônicos

O uso de inteligência artificial em golpes eletrônicos faz parte de uma tendência crescente de fraudes no Brasil. Em 2022, foram registrados mais de 200 mil casos de estelionato por meio eletrônico, um aumento de 65% em relação a 2021, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Santa Catarina, Minas Gerais e o Distrito Federal lideram o ranking de estados com o maior número de casos.

A dificuldade de distinguir o real do falso

Rogério Guimarães, diretor-executivo da Covenant Technology, explica que a tecnologia usada nesses golpes cria uma versão digital de uma pessoa, o que pode tornar difícil para a vítima identificar se está interagindo com uma pessoa real ou com uma versão criada por IA. Apesar de muitas dessas falsificações serem convincentes, algumas inconsistências, como movimentos desajeitados ou a falta de sincronização labial, podem servir como sinais de alerta. Rafael Sampaio, gerente nacional da NovaRed, também sugere que a iluminação ou qualidade de vídeo que parecem "perfeitas demais" devem levantar suspeitas.

Dicas para se proteger contra golpes com IA

Para ajudar a evitar cair em fraudes digitais que envolvem clonagem de pessoas, especialistas recomendam:

1. Desconfie sempre: Esteja consciente da existência desses golpes e questione qualquer conteúdo que pareça fora do comum.
2. Confirme diretamente: Se suspeitar de uma chamada de vídeo, tente ligar para a pessoa diretamente ou falar pessoalmente.
3. Atenção aos detalhes: Olhe com cuidado para movimentos dos olhos, da boca e inconsistências na iluminação.
4. Pergunte algo específico: Faça perguntas que apenas a pessoa verdadeira saberia responder ou crie uma palavra-chave para confirmar a identidade.
5. Teste a conversa: Se desconfiar durante a chamada, mude o assunto inesperadamente. Golpistas tendem a se desconectar ao serem confrontados.
6. Cuidado com pedidos de dinheiro: Se uma transferência financeira for solicitada, redobre a atenção, especialmente em situações urgentes ou incomuns.

Golpes como uma realidade iminente

Hanna Gomes e sua mãe escaparam de uma fraude sofisticada, mas os casos de clonagem digital estão aumentando à medida que a inteligência artificial se torna mais acessível. Embora ferramentas avançadas sejam necessárias para golpes em chamadas de vídeo em tempo real, até mesmo versões mais simples de deepfakes têm enganado vítimas. A melhor proteção contra esses crimes, segundo especialistas, é a vigilância constante e a verificação da autenticidade por meio de perguntas pessoais e detalhes específicos.