Trump liga paracetamol na gravidez a risco de autismo

Presidente dos EUA afirma que FDA emitirá alerta sobre uso do medicamento por gestantes, mas especialistas e fabricantes contestam

Por Plox

23/09/2025 07h30 - Atualizado há 2 dias

Durante uma coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (22), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que a FDA (Food and Drug Administration) deverá emitir um comunicado alertando os médicos sobre um possível aumento no risco de autismo em crianças expostas ao paracetamol durante a gestação.


Imagem Foto: Reprodução


Trump destacou que mulheres grávidas devem evitar o medicamento, exceto quando for absolutamente necessário. Ele foi enfático ao declarar:
\"Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom\"

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A Kenvue, empresa responsável pela fabricação do Tylenol nos Estados Unidos, rebateu rapidamente a afirmação presidencial. Em comunicado, a companhia declarou que não há embasamento científico que comprove qualquer relação entre o paracetamol e o transtorno do espectro autista (TEA).



A discussão levantada por Trump teve como base uma revisão de 46 estudos publicada em agosto na revista \"Environmental Health\". A análise, conduzida por pesquisadores de Harvard, investigou os efeitos do uso do paracetamol na gravidez e possíveis impactos no desenvolvimento neurológico das crianças. Embora algumas pesquisas indicaram sinais de associação com TDAH ou autismo, os próprios autores reforçaram que os dados não comprovam uma relação causal. Ainda assim, recomendaram o uso do medicamento na menor dose possível e sempre sob orientação médica.



Um grande estudo realizado na Suécia, que analisou dados de quase 2,5 milhões de crianças nascidas entre 1995 e 2019, comparou a incidência de autismo entre aquelas expostas ao paracetamol na gravidez e aquelas que não foram. Os números mostraram uma diferença mínima: 1,42% versus 1,33%. Os pesquisadores também usaram uma metodologia envolvendo irmãos — um exposto e outro não — e não encontraram evidência de ligação entre o medicamento e o TEA.


Outro levantamento importante, feito no Japão com mais de 200 mil crianças, também se baseou em comparações entre irmãos e chegou à mesma conclusão: não há vínculo entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o desenvolvimento de autismo.



A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) define o autismo como um conjunto de condições que afetam a comunicação, a linguagem e a interação social, além de envolver padrões restritos e repetitivos de comportamento. Cada indivíduo no espectro apresenta manifestações únicas.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), diversos fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o surgimento do autismo. Entre os possíveis fatores de risco estão: idade avançada dos pais, diabetes gestacional, exposição a poluentes, prematuridade, complicações no parto e baixo peso ao nascer.


Atualmente, a prevalência do TEA está em torno de 1 a cada 31 crianças — uma mudança significativa em relação ao início dos anos 2000, quando se estimava 1 a cada 150. Esse crescimento é atribuído, principalmente, à ampliação dos critérios diagnósticos, que passaram a incluir casos mais leves do espectro.



Apesar das declarações de Trump, o consenso entre especialistas e órgãos de saúde continua sendo o de cautela na interpretação dos dados científicos. Até o momento, nenhuma evidência robusta comprova que o uso de paracetamol durante a gestação esteja diretamente ligado ao desenvolvimento do autismo.


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