Após minutos de impaciência, as mãos, acostumadas ao uso constante de aparelhos eletrônicos, se libertaram e tocaram as da companheira. O olhar se ergueu e, finalmente, os olhos se encontraram, trazendo um suspiro de alívio. Fazia tanto tempo desde o último contato presencial significativo que nenhum dos dois conseguia se lembrar.

Quando a tecnologia falha e os sentimentos reaparecem

O casal, que morava junto, havia se habituado a se comunicar apenas por mensagens. Até que, em um dia de problemas técnicos, sem bateria, wi-fi ou energia, foram forçados a redescobrir a comunicação cara a cara. No início, a troca de palavras era curta e hesitante, mas, ao longo de um café na padaria, os diálogos fluíram mais naturalmente, relembrando conversas de tempos passados.

Descobriram, então, que raramente se falavam presencialmente. Seus diálogos noturnos eram breves e pareciam relatórios familiares. Porém, naquela tarde, a desconexão tecnológica trouxe de volta um sentimento de reencontro, tanto entre eles quanto com a própria essência do relacionamento.

Redescoberta de gestos simples

Com a ausência das distrações digitais, pequenos gestos, como uma caminhada de mãos dadas, ganharam novo significado, fortalecendo o vínculo entre o casal. O tempo desacelerou e as conversas trouxeram à tona memórias e risadas, que pareciam necessitar de um período de readaptação à ausência dos dispositivos.

Na volta para casa, caminhavam juntos, sem a urgência das notificações. O silêncio era cúmplice e o pôr do sol simbolizava o resgate de algo valioso: o reencontro com o outro como um presente, redescobrindo a intimidade que havia se perdido em meio às mensagens rápidas e automáticas.

Por Kaká Werá – revista Vida Simples