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Política
Moraes admite reuniões com BC e bancos, mas nega lobby em favor do Banco Master
Ministro do STF diz que encontros com presidente do Banco Central e dirigentes de grandes bancos trataram apenas dos efeitos da Lei Magnitsky sobre suas finanças pessoais, enquanto reportagem aponta pressão por operações favoráveis ao Master e contrato milionário com escritório de sua esposa
23/12/2025 às 10:39por Redação Plox
23/12/2025 às 10:39
— por Redação Plox
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou ter participado de reuniões com dirigentes do setor bancário, mas negou que tenha atuado para favorecer o Banco Master em encontros com o Banco Central. Segundo ele, as conversas trataram dos impactos da aplicação da Lei Magnitsky pelos Estados Unidos, que afetou suas operações financeiras pessoais.
Alexandre de Moraes confirmou reuniões com setor bancário, mas negou que Banco Master estivesse na pauta dos encontros
Foto: STF
Em nota divulgada nesta terça-feira (23), Moraes afirmou que se reuniu com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e com executivos de grandes instituições financeiras, conforme revelado pela jornalista Malu Gaspar no jornal O Globo. O ministro rejeita, porém, a versão de que teria intercedido em favor do Banco Master, cujo controlador, Daniel Vorcaro, foi preso em investigação sobre fraudes no sistema financeiro.
O Ministro Alexandre de Moraes esclarece que, em virtude da aplicação da Lei Magnistiky, recebeu para reuniões o presidente do Banco Central, a presidente do Banco do Brasil, o presidente e o vice-presidente Jurídico do Banco Itaú. Além disso, participou de reunião conjunta com os Presidentes da Confederação Nacional das Instituições Financeira, da Febraban, do BTG e os vice-presidentes do Santander e Itaú. Em todas as reuniões, foram tratados exclusivamente assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da referida lei, em especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas correntes, cartões de crédito e débito
Nota de Alexandre de Moraes
Acusações de lobby em favor do Banco Master
A coluna de Malu Gaspar relata ter ouvido seis fontes diferentes que atribuem a Moraes pressão sobre Gabriel Galípolo para que o Banco Central tomasse decisões favoráveis ao Master, incluindo a aprovação da compra de parte das ações do banco pelo Banco de Brasília (BRB). A operação acabou vetada pela autoridade monetária em setembro, após mais de cinco meses de análise.
Na mesma coluna, publicada em 9 de dezembro em O Globo, foi revelado que o escritório de advocacia de Viviane Barci, esposa do ministro, mantém contrato para representar o Banco Master em ações judiciais. O acordo, com duração de três anos a partir de janeiro de 2024, foi estimado em cerca de R$ 130 milhões no período.
Liquidação e trajetória do Banco Master
O Banco Master foi liquidado pelo Banco Central em 18 de novembro deste ano, um dia após a prisão de seu controlador, Daniel Vorcaro. A instituição se destacou nos últimos anos por um crescimento acelerado de patrimônio e por uma atuação agressiva no mercado, o que despertou a atenção de órgãos reguladores.
Ao longo desta década, o banco realizou aportes bilionários em empresas com baixa capacidade econômica de gerar retorno financeiro. Uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou suspeitas nas movimentações, incluindo possíveis operações em benefício de empresas ligadas à irmã de Vorcaro.
Reportagem da revista Piauí, publicada em outubro de 2024, mostrou que o patrimônio líquido do Master quintuplicou em cinco anos, saltando de R$ 219 milhões para R$ 5 bilhões. O avanço foi impulsionado pela emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
Esse crescimento se apoiou especialmente na venda de CDBs cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para pessoas físicas — operação considerada um indicativo de baixa liquidez. O movimento chamou a atenção do mercado e do Banco Central, colocando o Master no radar das autoridades.
Negócios com o BRB e veto do Banco Central
Em março de 2025, o Banco de Brasília (BRB) anunciou interesse em adquirir 58% do capital do Master por cerca de R$ 2 bilhões. A operação passou a ser investigada pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e submetida à análise do Banco Central.
Em setembro, após mais de cinco meses de avaliação, o Banco Central decidiu rejeitar a transação, alegando riscos considerados excessivos em razão da diferença de perfil e ativos das duas instituições. Entre o anúncio do interesse do BRB e o veto da autoridade monetária, analistas de mercado passaram a ver o negócio como uma espécie de resgate de um banco privado em situação de iminente insolvência por uma estatal.
Na véspera do agravamento da crise do Master, uma nova tentativa de capitalização foi anunciada. Em 17 de novembro, a Fictor Holding Financeira informou que injetaria R$ 3 bilhões no banco, por meio de um consórcio que incluía investidores dos Emirados Árabes Unidos.
A operação, celebrada publicamente pelas partes envolvidas, ainda dependia de aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ser efetivada.
O que é a Lei Magnitsky e seus efeitos
A Lei Magnitsky, citada por Moraes para justificar as reuniões com autoridades do sistema financeiro, foi aplicada contra o ministro em julho pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida ocorreu em meio a sanções impostas por Washington a exportações brasileiras e a autoridades do país.
As sanções previstas na Magnitsky incluem bloqueio de bens em território norte-americano, proibição de entrada nos Estados Unidos e restrições severas a operações bancárias ligadas ao sistema financeiro do país. Como grande parte das transações globais é mediada por instituições americanas, o mecanismo é visto como uma forma de sufocamento econômico do alvo das sanções.
Segundo Trump, Moraes foi incluído na lista de sancionados por supostamente ter ordenado prisões arbitrárias e violado a liberdade de expressão em julgamentos no STF que resultaram na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sete aliados por crimes como tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.