Não perca nenhuma notícia que movimenta o Brasil e sua cidade.
É notícia? tá no Plox
Educação
Doutoranda da Unesp usa IA para buscar novos tratamentos contra câncer de pulmão avançado
Pesquisa multidisciplinar da farmacêutica Maria Raquel Gomes Fernandes identifica, com ajuda de inteligência artificial, remédios já aprovados para outras doenças com potencial de complementar o tratamento do câncer de pulmão metastático
23/12/2025 às 08:38por Redação Plox
23/12/2025 às 08:38
— por Redação Plox
Compartilhe a notícia:
Uma combinação inédita entre ciência de dados e farmacologia rendeu a uma doutoranda da Unesp de Botucatu (SP) um prêmio internacional e projeção em um dos principais eventos mundiais sobre câncer de pulmão.
Maria Raquel foi premiada internacionalmente pela pesquisa realizada na Unesp de Botucatu que busca novos tratamentos para o câncer de pulmão.
Foto: Reprodução / Redes sociais.
A farmacêutica Maria Raquel Gomes Fernandes, doutoranda do Instituto de Biociências da Unesp, desenvolve uma pesquisa de reposicionamento de medicamentos com apoio de um software de Inteligência Artificial (IA). O objetivo é rastrear, em bancos de dados públicos, fármacos já aprovados e comercializados para outras doenças que possam complementar o tratamento do câncer de pulmão em estágio metastático.
O estudo, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi reconhecido pela Associação Internacional do Câncer de Pulmão, que concedeu à pesquisadora um prêmio voltado à Educação para Países em Desenvolvimento.
Reconhecimento em conferência mundial
Com a premiação, Maria Raquel participou da Conferência Mundial do Câncer de Pulmão, realizada em Barcelona, na Espanha, onde apresentou os resultados parciais da pesquisa a especialistas de diversos países.
Foi uma oportunidade incrível, eu não fazia ideia que eu poderia representar o Brasil, ter esse privilégio de estar ali, viver essa experiência. Oportunidade de mostrar que o Brasil também produz muita coisa boa, muita pesquisa de qualidade, e que a gente consegue fazer um trabalho muito bom, mesmo com as dificuldades com a questão do financiamento na área da pesquisa.
Maria Raquel Gomes Fernandes
Na avaliação da doutoranda, a participação no evento reforça a visibilidade da produção científica nacional na área de oncologia e o potencial do uso de novas tecnologias no desenvolvimento de terapias mais eficientes contra o câncer de pulmão.
Equipe multidisciplinar e foco em câncer metastático
A pesquisa tem caráter multidisciplinar e envolve diferentes unidades da Unesp em Botucatu. Além do orientador Robson Francisco Carvalho, do Instituto de Biociências, o trabalho conta com a coorientação de Patrícia Pintor dos Reis, da Faculdade de Medicina, e de Rafael Simões, da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA).
O foco principal é o câncer metastático de pulmão, estágio em que a doença se espalha para outras partes do corpo e exige abordagens terapêuticas mais complexas. Em vez de buscar novas moléculas do zero, a estratégia é identificar usos adicionais para remédios que já passaram por etapas rigorosas de teste e aprovação.
O reposicionamento, explica a pesquisadora, consiste em estudar medicamentos consagrados para outras indicações terapêuticas e avaliar potenciais novas atividades que possam ser úteis no combate ao tumor.
Como a Inteligência Artificial entra no estudo
O trabalho começa com o mapeamento de células cancerígenas de pulmão. A partir do sequenciamento genético dessas células, são identificados alvos biológicos que podem ser atingidos por determinados fármacos. Em seguida, esses dados são cruzados com informações de bancos públicos sobre medicamentos já disponíveis no mercado.
Nessa etapa, entra o uso intensivo de IA e programação. Um software analisa, em grande escala, as características dos fármacos e os padrões moleculares das células tumorais, filtrando aqueles que, teoricamente, podem atuar em diferentes frentes: inibir a divisão celular descontrolada, induzir a morte das células malignas por danos ao DNA ou bloquear a formação de vasos sanguíneos que “alimentam” o tumor.
Pesquisadora de Botucatu durante a conferência mundial em Barcelona.
Foto: Reprodução / Redes sociais.
Todo o processo, até aqui, ocorre em ambiente computacional, com algoritmos que apontam os medicamentos candidatos com maior potencial de eficácia contra o câncer metastático de pulmão.
Da predição no computador ao teste em células
Após essa triagem virtual, a pesquisa avança para a fase experimental em laboratório. Os fármacos apontados pela IA como mais promissores passam por testes em cultura celular, em que são avaliados seus efeitos sobre as células cancerígenas.
Nessa etapa, os pesquisadores verificam se os medicamentos conseguem reduzir o crescimento tumoral ou inibir a proliferação das células malignas em condições controladas. A pesquisa integra, portanto, uma fase de predição computacional e uma fase biológica, unindo grandes volumes de dados à experimentação tradicional em bancada.
Próximos passos e possibilidade de ampliação
O projeto atual contempla essas duas linhas principais: a seleção dos fármacos por meio de IA e o teste em culturas celulares. A partir dos resultados obtidos no câncer de pulmão, a equipe pretende aplicar a mesma metodologia ao câncer de pâncreas, outro tipo de tumor com alta letalidade e poucas opções terapêuticas.
Para que os medicamentos identificados sejam, de fato, reposicionados na prática clínica, ainda será necessário avançar para etapas de testes em humanos e obter autorização da Anvisa para uso com novas indicações. A continuidade dependerá de financiamento e parcerias, tanto públicas quanto privadas.
A pesquisadora ressalta que a perspectiva é seguir com o trabalho se as próximas fases forem bem-sucedidas, sempre com foco em transformar o conhecimento gerado em benefício direto para pacientes oncológicos.