Reforma do alto-forno da Usiminas é o maior investimento empresarial em MG nesta gestão, diz Zema
Usiminas oficializa retomada do Alto-forno 3 sem perspectiva de aumento de produção diante da ameaça do aço chinês no mercado interno
Por Plox
24/01/2024 18h17 - Atualizado há cerca de 1 ano
O governador de Minas, Romeu Zema, participou nesta quarta-feira (24) da cerimônia oficial da retomada do Alto-forno 3 da Usiminas, em Ipatinga, no Vale do Aço. O equipamento passou por reforma entre abril e novembro de 2023. Agora está entre um dos mais modernos do ocidente. A capacidade de produção é três milhões de toneladas de ferro-gusa por ano. Além do governador de Minas, a Usiminas recebeu o presidente do Grupo Techint, Paolo Rocca, o presidente da Ternium, Maximo Vedoya, o prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes, e de Santana do Paraíso, Bruno Morato, deputados federais e estaduais. Zema destacou que a reforma do Alto-forno 3 é o maior investimento feito por uma empresa em Minas Gerais nos últimos anos.
“É uma satisfação estarmos aqui em Ipatinga para comemorarmos aqui um dos maiores investimentos que nós tivemos em cinco anos da minha gestão: R$ 2,7 bilhões. A geração temporária de mais de 9 mil empregos, aumento da produção de aço e também redução da emissão de gases estufas. O que nós queremos é que a economia de minas fique cada vez mais competitiva e esse investimento aqui vem totalmente de encontro, maior produtividade e redução na emissão de gases”, ressaltou.
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Para o presidente da Usiminas, Marcelo Chara, o momento é de alegria para a siderúrgica, mas a operação do Alto-forno 3 não vai refletir em aumento de produção por conta da situação do mercado do aço no Brasil. Ou seja, a entrada do aço e de produtos manufaturados chineses no Brasil. Para Chara, uma concorrência desleal.
“O Alto-forno 3 é uma alegria, um objetivo e um orgulho. Orgulho da Usiminas, orgulho de todos os que colaboraram em uma obra de característica extraordinária, de uma complexidade, de uma magnitude. Nove mil pessoas trabalhando na obra, R$ 2,7 milhões investidos, ou seja, é extraordinário. E trazem todas as melhorias em termos de eficiência, condições de trabalho e competitividade. Hoje somos mais competitivos. O único tema que é algo que afeta o país inteiro é a importação de produtos que ingressam no país em condições de subsídio, em condições de concorrência desleal, isso, digamos, coloca em risco emprego e trabalho brasileiro. E nisso, é algo que inclui a região, claramente”, alertou.
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A invasão de produtos chineses no mercado brasileiro também foi comentado durante a cerimônia pelo presidente da Techint, grupo controlador da Usiminas, Paolo Rocca, e por agentes políticos como o prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes, e o governador de Minas Gerais. "Temos um problema sério hoje no Brasil: considero que o aço hoje está subtaxado. O Brasil precisava ter taxa de importação semelhante a outros países, como Argentina, México, Estados Unidos, para que o aço chinês, principalmente, não tome conta do mercado. Hoje nós temos sofrido com essa situação que eu já levei ao ministro da Indústria de Comércio, a FIEMG - a mesma coisa -, e nós estamos lutando para que essa questão seja solucionada”, pontuou.
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No fim de 2023, a Usiminas paralisou a operação do Alto-forno 1, responsável por uma produção de 600 mil toneladas por ano. Segundo a siderúrgica, foi uma necessidade para se adequar ao mercado e para a empresa continuar competitiva. Segundo o presidente da Usiminas, com o desligamento do equipamento, cerca de 100 funcionários foram demitidos.
Marcelo Chara explicou que não é possível operar com os três altos-fornos a plena carga, porque essa quantidade toda de aço não pode ser colocada no mercado atualmente. “Estamos concorrendo com indústrias que exportam a nosso país em condição de subsídio. E não queremos subsídio, não quero subsídio em capital para investimento, não queremos subsídio em nenhuma classe de insumos, e, de fato, não temos. Mas se a condição de mercado faz com que ingresse produtos subsídios a preços artificialmente construídos, não tem mais remédio que reduzir a produção”, pontuou.
Pergunto sobre possibilidade de haver demissões, Marcelo Chara ponderou que as perspectivas sobre 2024 não são positivas nesse começo de ano. “Há fileiras de navios para entrar no país, e não param. Se isso não mudar, cada vez vai ser pior. Cada vez vai ser mais complicado manter os níveis de produção que temos na indústria. Infelizmente, isso repercute que cada vez vamos ter que contratar menos serviços, menos pessoas, e afeta o volume de produção”, alertou.
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Veja o discurso na íntegra do presidente do grupo Techint, Paolo Rocca
Orgulho de estar hoje aqui no Vale do Aço. Ipatinga
é a cidade onde nasceu a Usiminas, uma referência
da indústria do aço na América Latina e um
importante polo metal mecânico.
A entrada em operação do Alto Forno 3 é um marco
muito importante para a continuidade e a
modernização industrial da Usiminas. Tecnologia de
ponta, profissionalismo na execução do projeto.
Reconhecimento ao time que trabalhou ao longo de
dois anos nesse projeto, demonstrando a sua
capacidade.
Esse é o primeiro passo: Usiminas terá nos
próximos anos grandes projetos de transformação,
em Ipatinga, em Cubatão e na mineração, para
avançar na descarbonização das suas operações,
para dar maior valor agregado aos seus produtos,
para melhorar a sua produtividade e eficiência e
poder competir com as melhores plantas do mundo
com uma ampla gama de produtos.
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A criação da Usiminas, com a fundamental
contribuição da Nippon Steel, foi um passo histórico
para acelerar o desenvolvimento industrial do Brasil.
O resultado dessa política foi que o PIB industrial
chegou a 30% com destaque para a forte presença
do aço no crescimento econômico do Brasil. O Brasil
daqueles anos era um modelo de desenvolvimento
industrial, exemplo para outros países da América
Latina.
Ao longos dos últimos 25 anos, a partir da expansão
da participação da China na produção e comércio de
produtos industriais, no Brasil, como em muitos
outros países da América Latina, com exceção do
México, esse paradigma virtuoso de
desenvolvimento baseado na indústria se inverteu.
O país que foi o líder industrial da América Latina
teve um acelerado processo de desindustrialização.
O PIB da indústria de transformação caiu para 15%
e o comercio exterior se baseia em um forte
superavit de matérias-primas (140 bilhões de
dólares) e um importante déficit nos produtos
industriais (41 bilhões de dólares).
O Brasil já foi o maior produtor de carros da
América Latina e, agora, está atrás do México nesse
ranking. A exportação de produtos manufaturados
representava 59% do total do país e esse número
chegou a 33% em 2022. Hoje, mais de 67% da
exportação brasileira é de produtos primários, como
petróleo, minérios e agricultura.
A raiz dessa desindustrialização está na relação com
a China e nos desequilíbrios no comercio: superavit
de produtos primários com China de 85 bilhões de
dólares e déficit na indústria de transformação de
34 bilhões de dólares.
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Essa relação desequilibrada esta fazendo danos
muito graves no mercado de aço brasileiro e na
indústria de transformação. Em todos os países
onde operamos, há taxas para evitar a competição
desleal com a China. No Brasil, o crescimento da
importação do aço foi de 50% no último ano e não
vemos nenhuma movimentação para bloquear esse
processo.
As mesmas empresas siderúrgicas e muitas
companhias da nossa cadeia industrial estão
postergando ou cancelando novos investimentos
porque não é possível competir com o Estado
chinês.
Não é possível competir com a combinação de
subsídios, financiamento sem custo, investimento
do setor público, subsídios de serviços essenciais,
que distorcem a alocação de capital e promovem a
formação de um substancial excesso de capacidade
produtiva nesse país.
Esse cenário é preocupante porque desestimula
qualquer investimento no setor industrial do Brasi e
não existe desenvolvimento econômico e social em
um país sem a indústria.
Não podemos deixar que a China continue levando
os empregos de qualidade para lá.
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O ciclo de globalização que promoveu a
primarização das economias do Brasil e da América
Latina, hoje, esta mudando em escala global. A
pandemia, as guerras, as crescentes tensões entre
os Estados Unidos e a China, a necessidade de uma
transição energética para energias limpas, estão
modificando o contexto da cadeia de valor e das
relações comerciais. Estão aparecendo os riscos de
um desenvolvimento baseado sobre os produtos
primários e a dependência da China. Ao mesmo
tempo estão abrindo novas oportunidades, em
particular para o Brasil.
A América Latina e, especialmente, o Brasil têm a
oportunidade de atrair novos investimentos
industriais, ganhar acesso a novos mercados para os
produtos de maior valor agregado.
O Brasil tem uma matriz energética limpa, recursos
humanos de qualidade e uma grande oferta de
matéria-prima. É um candidato forte para atrair
essa reconstrução da cadeia de suprimentos
globais. O México já está aproveitando essa
oportunidade.
Para poder ser protagonista e não a vitima nesse
novo ciclo que se esta desenhando, é necessário
criar as condições para promover a eficiência e a
competitividade do sistema industrial.
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O Poder público e as empresas precisam trabalhar
com uma visão comum de longo prazo.
Combater as praticas desleais no comercio, reduzir
e simplificar a carga tributaria, melhorar a eficiência
dos serviços públicos e da infraestrutura que
sustenta as atividades produtivas precisam estar na
agenda prioritária do país.
A segurança jurídica, a estabilidade das regras do
jogo, a consistência das decisões do poder judiciário
têm um peso importante para criar um contexto
favorável para os investimentos.
Um exemplo: Iniciamos o nosso investimento na
Usiminas em 2012 e, até hoje, enfrentamos uma
disputa judicial sobre uma possível obrigação de
realizar uma oferta pública de ações. A
jurisprudência histórico do Brasil deixava claro que
não era necessário realizar a OPA, tivemos decisões
favoráveis na esfera administrativa e em 3
instâncias judiciais, mas o assunto ainda não está
encerrado 12 anos depois.
A Reforma Tributária introduzida recentemente foi
um passo importante mas ainda é necessário mais
avanços para reduzir o custo Brasil, criar as
melhores condições para acelerar a atração de
investimento.
As empresas têm que investir e buscar a maior
eficiência nas suas operações. Em qualquer cenário
é necessário aumentar a nossa produtividade,
investir em tecnologia, incorporar as ferramentas
digitais em todos os âmbitos da gestão. Esses
passos são essenciais para poder competir com
sucesso e para assegurar serviços e produtos de
qualidade para a cadeia de valor.
Nosso maior recurso é a nossa gente, e por isso a
capacitação permanente, a atenção as suas
necessidades, a motivação e o orgulho de vestir
esse uniforme estão no centro da nossa agenda de
transformação.
Reforçamos o nosso compromisso de sermos bons
vizinhos. A segurança, o cuidado com o meio
ambiente não são uma opção, são uma condição
necessária para legitimar as nossas operações, e
parte dos nossos valores. Precisamos continuar
avançando na melhoria do desempenho ambiental e
vamos fortalecer o nosso apoio para o
desenvolvimento da educação nas comunidades
onde operamos. Já estamos trabalhando para
maximizar o impacto da Usiminas nessa área.
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Isso é o que estamos fazendo na Usiminas,
seguindo uma vocação industrial que tem suas
origens nas mesma raízes do Grupo Techint.
O compromisso com o desenvolvimento industrial
foi uma missão para o meu avô e fundador do
Grupo Techint, Agostino Rocca. Na década de 40,
ele montou escritórios no Brasil, Argentina e México
para apoiar o crescimento das indústrias nesses
países.
A visão sobre a qual se construiu o Grupo Techint ao
longo dos últimos 70 anos é contribuir com o
crescimentos dos países da América Latina
agregando valor aos imensos recursos naturais e o
potencial dos Recursos Humanos nos nossos países.
Essa continua sendo a nossa vocação.
O Grupo Techint e a Ternium assumiram uma maior
responsabilidade na condução da Usiminas. Apesar
de olhar com preocupação o cenário atual, também
identificamos grande oportunidades para o Brasil e
para a Usiminas no contexto mundial. Apostamos na
Usiminas.
Um exemplo dessa colaboração foi o extraordinário
projeto realizado na Argentina com aço da
Usiminas, para desenvolver o potencial de gás de
Vaca Muerta, parte de um projeto de longo prazo
de integração energética entre nossos países.
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Quero reafirmar o nosso compromisso como
acionista para impulsionar a Usiminas. O programa
de modernização da Usiminas começou com a
conclusão do Alto-Forno e vamos continuar
avançando. Não tem marcha ré.
O aumento da participação na Usiminas dobra a
aposta no Brasil. A Usiminas, Ternium, Tenaris e
Techint Engenharia e Construção dão trabalho para
40.000 pessoas. Nossa rede de clientes e
fornecedores, pequenas, medias e grandes
empresas comprometidas com o desenvolvimento
industrial do pais estão presente em todo o país.
Eu quero deixar um recado para todos os
funcionárias e funcionárias da Usiminas.
Acreditamos na capacidade de vocês para liderar
esse novo momento da empresa, focada na
excelência industrial e eficiência operacional.
Vamos trabalhar para apoiar o fortalecimento de
Minas Gerais e Brasil industrial.