Retorno das aulas presenciais divide opiniões no Vale do Aço

Para alguns, o retorno das aulas semipresenciais é um alívio. Para outros, preocupação

Por Layara Andrade

24/02/2021 20h58 - Atualizado há cerca de 3 anos

Empolgação. Essa é a palavra usada por Valéria Correia, moradora de Timóteo, ao se referir ao retorno das aulas presenciais das filhas Clara e Luiza, de 12 e seis anos, respectivamente. Valéria Correia é artesã e trabalha em casa, ela conta que, durante o período de paralização das aulas presenciais, dividiu seu tempo fazendo suas peças artesãs e ajudando as filhas nos deveres de casa, principalmente a menor, que está em uma fase crucial para o desenvolvimento escolar, mas não recebeu aulas virtuais da escola particular que estudava.

“Ano passado estava apreensiva, mas após um ano de quarentena e aulas virtuais, ouso a dizer que, por experiência própria, percebi que minhas filhas têm um desempenho melhor nas aulas presenciais. Também notei que estavam indispostas ao estudar. As duas, ao saberem que iam voltar, ficaram muito empolgadas”, conta Valéria.

Para Clara, as aulas presenciais são melhores porque é possível ter um contato real com colegas e professores, além de poder sanar as dúvidas. Ela também comenta que compreende os novos protocolos de prevenção da Covid-19. “As regras são rigorosas, mas entendo que são necessárias para o nosso bem”, relata.

 

A pequena Luiza, apesar da pouca idade, conta que também entende que precisa seguir todas as regras impostas para o cuidado. “Eu gostei muito de voltar à escola. Só é chato usar máscara, mas eu só tiro para lanchar e beber água”, disse.

Luiza pronta para a escola (foto: arquivo pessoal)

Mas nem todo mundo sente um alívio com a volta às aulas mesmo que semipresenciais. Rodrigo Vieira, hoteleiro e designer, morador de Ipatinga, tem quatro filhos estudantes e se posiciona totalmente contrário ao retorno. “Estamos em uma pandemia e não existem protocolos suficientes que possam evitar 100% o contágio. Não há vacina para todos”, enfatiza.

Rodrigo conta que ele e o filho fazem parte do grupo de risco e que sua mãe, idosa e acamada, mora na mesma casa. Ele relata ainda que a família segue o mesmo ritmo de isolamento desde o início da pandemia. “Em casa adotamos diversas atividades para manter a sanidade”, frisou.

 

Para a professora da rede pública municipal de Ipatinga, Jane Karla, o retorno também é preocupante. "A pandemia está fora de controle, os leitos de UTI da cidade estão com uma ocupação elevada, não há vacina suficiente para todos ainda. O vírus está sofrendo mutação e já existem novas variantes, inclusive em nosso estado. Muitas vidas estarão em risco, desde crianças e adolescentes e seus familiares, bem como os profissionais da educação, considerando que muitos possuem comorbidades. Eu gostaria muito que houvesse um retorno seguro, e isso só seria possível com a imunização da população. É necessário que haja um esforço conjunto do poder público federal, estadual e municipal para garantir o acesso às vacinas com maior celeridade e assim retomarmos as aulas com total segurança", enfatizou.

Jane Karla (Foto: arquivo pessoal)

 

Na terça-feira (23), a Câmara Municipal de Ipatinga aprovou, em segunda votação e redação final, um projeto de lei que define entre os grupos prioritários para vacinação contra a Covid-19 os profissionais de educação que possuem comorbidades agravantes.

 

Outra professora da rede pública, do município de Timóteo, se declara a favor das aulas presenciais desde que haja segurança para todos. “O protocolo de segurança não me passou nenhuma segurança. Falta funcionários nas escolas para efetuar a higienização conforme o protocolo. Além disso, a comunicação entre o professor e os alunos fica prejudicada pelo uso da máscara, fazendo com que o professor tenha que forçar mais sua voz, o que pode acarretar danos às pregas vocais desse profissional. A qualidade do ensino não será a mesma, principalmente na alfabetização, pois é necessário as crianças perceberem o som das letras para construírem uma consciência fonológica”, explica Wanízia Soares.

 

“Se existem muitos adultos que têm resistência em usar máscara corretamente, será que com as crianças e adolescentes não teremos essa resistência? Muitos fazem comparações da praia com a escola, esquecendo-se que as praias são ambientes abertos e com grande espaço e a sala de aula é restrita e pequena. Se para os adultos está sendo difícil o distanciamento, imagina para adolescentes que vivem em "bandos". Não sou contra o retorno, sou contra a não vacinação dos profissionais da educação antes do retorno presencial das aulas”, conclui a professora.

 

As aulas, totalmente presenciais ou de forma escalonada, estão retornando nessa semana nas principais cidades do Vale do Aço. Para os alunos do ensino superior também.

 

Gabriel Iasbeck é professor dos cursos de Engenharia de Controle e Automação, Engenharia Elétrica e Engenharia da Computação, e é um dos que se posiciona favorável ao retorno presencial. “Seguindo todas as medidas de prevenção, acho uma boa opção”, conta. Segundo ele, nada se compara às aulas nas salas, apesar de acreditar que o ensino virtual não tenha sido prejudicial aos seus estudantes.

 

“A instituição na qual eu trabalho já tinha uma excelente estrutura de aulas online, então conseguimos migrar rapidamente para o modo totalmente virtual. Acredito que nada se iguala ao ensino presencial, mas pela eficiência da instituição, os alunos não foram prejudicados”, concluiu.

 

Muitos alunos concluíram os estudos no meio da pandemia e colaram grau de forma virtual. Para a recém-formada Ana Flavia Rodrigues, que colou grau on-line em Engenharia Civil, o momento foi difícil no começo. “Era o estudante por ele mesmo, por mais que tínhamos os professores on-line para nos auxiliar, não era da mesma forma que teríamos presencialmente. Era tudo novo, tanto para nós, estudantes, como para os professores, foi uma experiência muito difícil no início, mas depois deu tudo certo”, contou.

 

Sindicatos

O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), de Ipatinga, publicou em rede social que “Os/As professores/as darão as aulas remotamente, enquanto não houver segurança sanitária” e pediu aos pais que não enviassem os filhos às escolas.

Em Timóteo, o Sindicato dos Servidores Públicos (Sinsep) informou que os professores entrarão em greve, por período indeterminado, a partir de segunda-feira (01).

O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Coronel Fabriciano também não se pronunciou em nota até o fechamento desta reportagem.

Destaques