Fé: restaurantes tradicionais passam a fornecer “marmitex”

A pandemia que assola o país e o mundo está encontrando no Brasil a determinação de pessoas que resistem sempre

Por Plox

24/03/2020 14h13 - Atualizado há cerca de 4 anos

Fé, essa palavra extremamente pequena, composta por apenas duas letras, representam neste momento, em que o mundo enfrenta a sua pior crise dos últimos anos, várias outras palavras nos dicionários de todas as línguas. 
 
Curiosamente, a reportagem do PLOX ouviu a mesma palavra, de duas letras, declarada por duas famílias que não se conhecem. Mas elas têm muito em comum.
 
Em Ipatinga-MG, um tradicional restaurante foi erguido e conduzido diariamente por um casal da cidade. 
 
Em Timóteo, na mesma região, outra família trilha os mesmos caminhos e também ergueu um restaurante e o conduz diariamente com a mesma perseverança.
 
A moradora da rua mais bucólica de Timóteo, emprenhada na história da cidade, Maria Madalena de Carvalho Procópio, em seus 77 anos, nunca viu o mundo passar por uma situação tão “tenebrosa” como essa pandemia do novo coronavírus. 

MADALENA-NO-RESTAURANTE Dona Madalena e filhas são proprietárias do Restaurante Gisele. Foto: ACIAT


 
Criou a família na tradicional “Rua da Biquinha”. Nunca imaginou que uma crise surgida na Ásia rondaria sua casa, no interior das Minas Gerais. 
 
Dona Madalena e as filhas tem como negócio da família o “Restaurante Gisele”, no mercado municipal no centro da cidade, perto do supermercado Bretas. 
 
A especialidade da casa? comida mineira é claro! Aprovada por qualquer “cumpadi” bão. Elogiada por fiéis clientes que as décadas transformaram em amigos.
 
A explosão da pandemia caiu “como o estouro de uma boiada” na vida dessas mineiras determinadas. A ordem de fechar todo o comércio da cidade poderia significar o fim do negócio e o desemprego dos vários funcionários. 

WhatsApp Image 2020-03-24 at 14.57.00 Os clientes não podem entrar e se sentar, mas podem receber os marmitex. Foto: PLOX

 

Após conversas entre donos e colaboradores, eles resolveram pegar o medo e transformar em atitude, em resistência. Agora, a típica comida continua ficando pronta às 11 horas, e pode ser retirada no local, sem contato entre as pessoas, com todo o cuidado que esses tempos exigem.

GISELE As colaboradoras abraçaram a ideia e estão empenhadas. Foto: PLOX

 

Também pode ser pedida pelo telefone (31) 3849.5060 “por apenas 11 reais, a pessoa ainda escolhe entre três tipos de carne. E o marmitex, menor é mais barato ainda. Sabemos das dificuldades que todos estão vivendo. Com isso estamos, sim, mantendo nossas vidas, mas as pessoas tem nos agradecido muito por estarmos aqui nesse momento, de braços abertos. Não podemos abraçar, mas podemos alimentar”, afirmam.
 
Ipatinga também não ficou de fora desse momento complicado. A pandemia também ronda a cidade da siderúrgica Usiminas, com equipamentos que não podem parar nunca, pois ficariam danificados. Com o mesmo desafio de não poder parar e ao mesmo tempo preservar a vida, o casal Anderson Abib Andrade e Cintia Fernandes decidiu resistir. 

Screenshot 7 O casal Anderson e Cintia são responsáveis pelo Restaurante Komaki. Foto: Arquivo pessoal

 

Proprietários do Restaurante Komaki, no centro do bairro mais tradicional da cidade, o Horto, eles não podem acomodar seus clientes assentados, mas podem fornecer a comida em “marmitex”. O casal já morou nos Estados Unidos. Eles aplicam em seu restaurante conceitos de primeiro mundo, nos pratos, na higienização, no ambiente climatizado e outros. 
 
Anderson e Cíntia são obstinados. “A Cintia então é de se admirar. De uma família tradicional de médicos, ela faz o que for preciso. Se reúne com empresários e se necessário varre o chão. Ela quer é trabalhar. É adorável!”, descreve um cliente.
 
Cintia informa que estão atendendo aos moradores dos bairros Horto e Santa Monica pelos telefones (31) 3824.8218 e (31) 98856.9999.

Anderson pede que os pedidos sejam feitos de 8 até às 10 horas para dar tempo de preparar os pratos, que também podem ser buscados no local.

WhatsApp Image 2020-03-24 at 15.08.23 Foto: Arquivo pessoal


 
Por último, Anderson disse: “a gente faz a comida e vocês fiquem em casa”.
 
São duas famílias que iconizam a força e o destino de um povo que manifesta apreço com abraços apertados. Que é hospitaleiro e aperta a mão de estranhos. Dá três beijinhos no rosto. Dá tapinha nas costas. Conta caso em grupo. É afetuoso e trabalhador. Que ama as ruas, as portas de casa, as esquinas e praças, agora vazias.
 
É o povo brasileiro. Essa raça misturada. Talvez um pouco distante dos puro sangue. Mas com a mistura étnica que gerou a resistência e a capacidade de “se virar”, de sobreviver sempre.
 
A depender de nós brasileiros, como estas duas famílias, esse vírus terá mais dificuldades por aqui ao enfrentar pessoas como “as meninas da Rua da Biquinha” e o “casal 20 de Ipatinga”.
 
O PLOX tem honra de poder levar ao mundo um pouco das atitudes do que podemos chamar de “Raça Brasil”. 

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