Médicos preferem não trabalhar exclusivamente no SUS, aponta estudo da USP

Apenas 24,6% dos médicos residentes no Brasil optam por trabalhar majoritariamente ou integralmente no Sistema Único de Saúde (SUS) após a residência médica, segundo o estudo Demografia Médica 2023. A pesquisa foi conduzida pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenada pelo professor Mário Scheffer.

Competição salarial e condições de trabalho desfavoráveis

A competição com o mercado privado no quesito salarial e as condições de trabalho no setor público afastam os profissionais do SUS. Cinco anos após a residência médica, a preferência por atuar no SUS cai para 12,1%. A pesquisa entrevistou 1.614 médicos residentes com idade até 35 anos por telefone.

Residência médica financiada com recursos públicos

A maior parte da residência médica é financiada pelos ministérios da Saúde ou da Educação ou por governos estaduais, com apenas 17% financiada por instituições ou hospitais com recursos próprios. O professor Scheffer destaca que, apesar da formação especializada ocorrer toda no SUS, os médicos acabam se inserindo em um mercado de trabalho que não atende prioritariamente usuários do SUS após a conclusão da residência.

Desequilíbrio na distribuição dos residentes médicos pelo país

O estudo também revela um grande desequilíbrio na distribuição dos residentes médicos pelo país, com a maior concentração na região Sudeste (56%). As regiões Sul e Nordeste possuem, respectivamente, 16% e 17% dos residentes, enquanto o Centro-Oeste tem 8% e o Norte apenas 4%. Estados como Roraima e Amapá têm menos de cem residentes somados.

Setor privado busca profissionais de especialidades pró-sistema público

Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV, afirma que o setor privado tem mostrado interesse em áreas predominantes do serviço público, como medicina de família, medicina preventiva e social e infectologia. Segundo Massuda, o setor privado tem reconhecido a importância do trabalho dos médicos de família e começado a contratar profissionais dessa especialidade.

Condições de trabalho e salário impactam escolha dos profissionais

Fernando Brito, médico recém-formado em anestesiologia, ressalta que, além do salário, as condições de trabalho e os insumos de melhor qualidade encontrados na rede particular também influenciam a escolha dos profissionais. Segundo ele, muitas vezes, as equipes de administração e gestão são mais qualificadas na rede particular do que no SUS.