Barão de Cocais deixa Vilarejo histórico por risco de rompimento iminente

Até o gado foi removido de Socorro, onde o risco de rompimento é iminente

Por Plox

24/05/2019 09h06 - Atualizado há quase 5 anos

Embora os sítios permaneçam de pé e as plantações continuem florescendo em Barão de Cocais, o vilarejo Socorro está desenganado desde 8 de fevereiro, quando os moradores acordaram com o disparo de sirenes e foram retirados às pressas por causa do risco de rompimento de uma barragem vizinha. Deserto, até os gados foram removidos do povoado. “É como ter um parente muito doente, a gente fica só imaginando a morte”, descreve a moradora Eliza Aparecida dos Santos, de 54 anos.

Segundo informações do site Metrópoles, em um possível rompimento da barragem Sal Superior, o vilarejo de Socorro, que está em nível 3 de alerta, o mais crítico desde o dia 22 de março, seria o primeiro alvo. Os distritos de Tabuleiro, Piteiras e Vila do Gongo seriam assolados pelo lamaçal, que formam a chamada zona de autossalvamento, sem que houvesse tempo para correr. 

Devido ao risco, todos os 458 habitantes foram realojados em hotéis ou casas fora da área de risco, alugadas pela mineradora. Deixando para trás lavoura, animais e pertences pessoais. “A primeira sensação é de um sonho ruim, como se não tivesse acontecendo. Só depois a gente entende o risco que correu”. Eliza, que era diretora da Escola Municipal Mestre Quintão, em Socorro, um colégio rural que há 51 anos ensina crianças do povoado a ler e escrever, informa que teve os 42 estudantes transferidos para uma outra escola, em uma região elevada de Barão de Cocais.

(Foto: divulgação Vale)

(Foto: divulgação/Vale)

“Havia alunos que iam para aula de cavalo, havia um apego muito grande”, desabafa professora Roseney Motta, de 46 anos. A professora Ana Paula Hercula, de 39 anos, conta que “Toda aula a gente tem de reservar 10 minutos para falar da barragem. É o tempo que as crianças têm para desabafar”. 

“Moço, deixei milho para comer. Deixei mandioca. Deixei 60 cabeças de galinha. Tem um pomar de laranja, limão, jaboticaba”. “Tudo está lá; e eu, aqui. Tô que não me conformo.” desabafa uma moradora de outra área condenada, a Vila do Gongo, a agricultora Geralda Santos, de 79 anos. Hoje viúva, ela criou dez filhos só com o que plantava.

Vivendo com parte da família em uma residência mobiliada e paga pela Vale, em Barão de Cocais, ela diz não se sentir em casa. Com a saúde debilitada, precisa usar muleta para conseguir andar. Ao mostrar as palmas das mãos com marcas de feridas, ela diz: “Minha mão cascou quando me levaram para um hotel, por causa do estresse.”

Aos 67 anos, o padre José Antonio de Oliveira, diz estar cada vez mais preocupado com os fiéis de Barão de Cocais. “Na Semana Santa, muitos falaram em depressão durante a confissão. De acordo com o padre, o sobrevoo de helicópteros e os simulados de evacuação acabam causando efeito colateral. “O pessoal fica ainda mais assustado.”

O Santuário é de arquitetura barroca, construído no século 19, ostenta uma escultura atribuída a Aleijadinho e está localizado em área considerada segura. Dois veículos, equipados com sirenes, passam a maior parte do dia estacionados à sombra da igreja, prontos para rodar a cidade, alertando sobre o rompimento.

O Santuário também passou a abrigar obras sacras da Igreja Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro. Construída em 1737, é paróquia mais velha de Barão de Cocais e organiza a principal festa da cidade, que dura nove dias, em homenagem à padroeira do Socorro. “O vilarejo é histórico e muito antigo. Dizem que o povoamento de Barão de Cocais começou por lá e veio descendo pelo Rio São João”, diz o padre José Antonio.

Segundo previsão adotada pela prefeitura de Barão, se a mina de Gongo Soco romper, a lama deve seguir pelo curso do rio e percorrer cerca de 18 quilômetros. Neste caso, outros nove bairros seriam inundados, atingindo 3 mil casas e 6 mil pessoas. Em alguns pontos, o cálculo é que o leito chegue a sete metros de altura.

Por margear o rio, o Centro seria uma das áreas mais afetadas. De acordo com o site, a barragem despejaria 73% dos rejeitos – e não 100%, conforme foi considerado no último dam break, divulgado nessa quinta-feira, 23. “As áreas demarcadas levam em conta o pior cenário possível, do rompimento da barragem associado a uma chuva decamilenar”, diz o prefeito Décio dos Santos (PV). “Infelizmente, estamos preparados para o pior.”

Há placas sinalizando rotas de fuga e pontos de encontro escolhidos pela Defesa Civil por todas as ruas. Na região alta do município, um dos pontos fica o lado da Escola Municipal José Maria dos Mares Guia, onde estudam cerca 350 crianças do maternal ao 9° ano.

A vice-diretora Liliane Gonçalves, de 47 anos, diz: “Estamos preparados para ficar presos na escola”. Segundo ela, o colégio não será atingido pela lama, mas perderia qualquer acesso à cidade, “Se acontecer, a gente fica ilhado”. “Ninguém disse quanto tempo pode levar, mas imagino no máximo uma noite. Com certeza, o estoque da merenda é suficiente para alimentar todo mundo.”

Destaques