Governo recua de mudanças no IOF após temor de nova crise nas redes

Pressão nas redes sociais e receio de desgaste semelhante ao caso do Pix levaram governo Lula a reavaliar aumento de imposto sobre investimentos no exterior

Por Plox

24/05/2025 11h53 - Atualizado há 3 dias

Na noite da última quinta-feira (22), quase à meia-noite, o governo federal decidiu suspender parte das mudanças anunciadas no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), temendo os impactos de uma nova crise de comunicação nas redes sociais. A medida inicial havia sido divulgada poucas horas antes, pelo Ministério da Fazenda, e previa a cobrança de 3,5% de IOF sobre investimentos de fundos brasileiros em ativos no exterior, o que até então era isento.


Imagem Foto: Print de vídeo YouTube


A repercussão negativa foi imediata, com críticas partindo especialmente de setores do mercado financeiro, que alertaram para os possíveis efeitos da medida sobre a atratividade dos investimentos e para o risco de o governo ser visto como controlador de capitais. Internamente, assessores do Palácio do Planalto identificaram o risco de um novo desgaste semelhante ao ocorrido em janeiro, quando a proposta de monitoramento de transações via Pix acima de R$ 5 mil teve de ser revogada por ordem do presidente Lula, após forte reação da opinião pública.



Dessa vez, o temor era de que se repetisse o chamado “efeito Nikolas”. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), conhecido por sua atuação nas redes sociais, já havia sido protagonista de um vídeo viral sobre o Pix, que ultrapassou 100 milhões de visualizações em um único dia. Mais recentemente, ele responsabilizou o governo por descontos indevidos em benefícios do INSS, também com grande repercussão online.



Com base nesse histórico, ministros e técnicos do governo agiram com rapidez. Rui Costa (Casa Civil), Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação) e Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) se reuniram no Palácio do Planalto com a equipe jurídica para revisar o conteúdo do decreto. Mesmo de São Paulo, o ministro Fernando Haddad participou da reunião por videoconferência.


A decisão de tornar público o recuo ainda na madrugada partiu de Sidônio Palmeira, que argumentou que isso reduziria o impacto no mercado financeiro, evitando instabilidade logo na abertura. O anúncio oficial da revogação parcial foi feito por volta das 23h30, por meio das redes sociais do governo.


Na manhã da sexta-feira (23), Fernando Haddad confirmou a mudança de rota. Segundo ele, não há problema em fazer ajustes desde que o rumo principal da política econômica seja mantido. A justificativa dada foi a de que a revisão evitaria interpretações equivocadas de que o governo busca desestimular investimentos externos.


“Corrigir a rota faz parte, desde que o rumo esteja certo” — afirmou Fernando Haddad

O episódio, no entanto, reacendeu críticas à articulação entre os ministérios e o Planalto, uma falha que também foi apontada no caso do Pix. A estratégia do governo agora parece focar em uma resposta mais ágil às repercussões digitais, especialmente diante do poder de influência de figuras como Nikolas Ferreira.


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