Influenciadores mirins promovem apostas e ameaçam crianças e jovens com vício

A disseminação dessas apostas já alcança crianças e adolescentes, preocupando famílias e escolas

Por Plox

24/06/2024 21h59 - Atualizado há 11 meses

Propagandas de cassinos online e apostas esportivas, conhecidas como bets, estão sendo promovidas por influenciadores mirins no Instagram. Um perfil de uma menina de seis anos com quase 3 milhões de seguidores é um dos que divulgam esses jogos de azar. 
O assunto foi abordado em matéria do jornal Folha de São Paulo. 

Ilustração: PLOX

A disseminação dessas apostas já alcança crianças e adolescentes, preocupando famílias e escolas. A Escola da Vila, na zona oeste de São Paulo, enviou um comunicado alertando sobre o aumento do uso de aplicativos de apostas entre os jovens, destacando a vulnerabilidade dos adolescentes. "Reiteramos a importância de conversarem em casa a esse respeito, de modo a agirmos em conjunto, escola e família, na prevenção desse comportamento de risco", dizia o texto enviado às famílias.
Um estudante de uma escola particular em São Paulo ganhou mais de R$ 5.000 em uma semana apostando em bets, mas perdeu a mesma quantia em poucos dias, levando a família a buscar assistência psicológica.
O vício em apostas, especialmente sobre jogos de futebol, também afeta equipes de base dos clubes. Um garoto de 14 anos que joga em um time do interior de São Paulo acumulou uma dívida de R$ 5.000 devido às apostas, apesar de receber apenas R$ 200 por mês de ajuda de custo do clube. Clubes estão agora chamando palestrantes para alertar os jogadores sobre os riscos das apostas.
Na semana passada, o Instituto Alana, ONG que defende a infância e a adolescência, denunciou ao Ministério Público a publicidade ilegal de cassinos online por influenciadores mirins. A denúncia menciona os graves impactos desse vício, incluindo o risco de suicídio, citando o caso de um adolescente de 17 anos do Maranhão que se suicidou após perder R$ 50 mil em um jogo de azar.
O perfil de uma influenciadora de seis anos promove cassinos e bets, além de rifas e sorteios de produtos caros. Outro caso envolve um garoto de sete anos cujo perfil, gerido pela mãe, também promove apostas. Uma adolescente de 16 anos, famosa pelas dancinhas do TikTok e com 7,7 milhões de seguidores, faz propaganda de bets, incentivando seus seguidores a apostarem.
Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo do Alana, critica a Meta, dona do Instagram, por permitir esses conteúdos. "As empresas se aproveitam do fosso social do nosso país, e, nessa situação de extrema crueldade, as famílias são o elo mais fraco", afirma Mello. Ela diz que a denúncia visa responsabilizar a rede social por permitir conteúdos ilegais e por não ter mecanismos de denúncia adequados para anúncios de jogos de azar.
A Meta respondeu à Folha que não permite menores de 13 anos em suas plataformas, salvo em contas geridas por responsáveis, e que remove conteúdos que promovem jogos de azar voltados a menores de 18 anos.
Pablo Damaceno, diretor da Escola da Vila, relatou que muitos meninos do 7º ao ensino médio têm usado bets, acreditando ser uma forma fácil de ganhar dinheiro. A escola realiza ações de conscientização e trabalhos de classe para alertar sobre os perigos das apostas online.
Psicólogos como Karen Scavacini e Karina Fukumitsu alertam para a combinação perigosa de influenciadores promovendo jogos de azar para jovens. Casos de jovens que se suicidaram por dívidas em bets têm sido relatados. "Essa forma imediatista de ganhar dinheiro não é equilibrada e, quando se perde de maneira repentina, é difícil aguentar a frustração", afirma Fukumitsu.
O Datafolha mostrou que 40% dos usuários de apostas esportivas online no Brasil têm entre 16 e 24 anos. Para ajudar quem sofre com problemas de jogo, há iniciativas como os Jogadores Anônimos do Brasil e serviços especializados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

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